Num momento em que se celebra o fim do programa de assistência à Grécia, a Europa prepara-se para entrar na segunda fase da moeda única – a ideia parece ser aprofundar a União Económica e Monetária, fortalecer os países da União no seu conjunto e em particular os mais expostos às crises externas, mas… bem prega Frei Tomás.

Está lamentavelmente claro, por estes dias, que esta fase não é unificadora e que põe aliás em evidência – outra vez — abissais diferenças de opinião, de posicionamento e de comprometimento entre os líderes europeus a propósito do projecto de Integração criado e legado por Monnet e Schuman.

Angela Merkel e Emmanuel Macron unem-se na defesa de que a Europa deve dispor de orçamento próprio e da capacidade de intervir de modo a evitar choques assimétricos, cujas repercussões são bem conhecidas. Um orçamento único seria o instrumento para que, de forma solidária, os europeus construíssem a solidez necessária para resistir às mais duras tempestades financeiras, que hão-de abeirar-se, mais tarde ou mais cedo, do Velho Continente.

No entanto, esta ideia não parece sequer sobreviver aos primeiros ventos – um conjunto de 12 países, encabeçado pela Holanda, veio já manifestar o seu repúdio pela mesma e por toda a carga valorativa que ela transporta. As razões não são exactamente iguais entre todos os países detractores (há quem chumbe a ideia de um orçamento único, resultante de contribuições nacionais e tributos europeus, há quem questione as modalidades de financiamento e há quem ponha em causa que um cidadão de um qualquer Estado-Membro deva contribuir para o bem-estar de um cidadão de outro Estado-Membro, como se isso fosse uma ideia nova); mas todas elas evidenciam aquilo que mina, de há muito e com profundidade, o projecto europeu: o fim da solidariedade entre os povos da Europa.

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Num momento em que nos vemos sujeitos a tantas pressões, nomeadamente com a crise dos refugiados, sobreleva o que de pior pode acontecer a uma União: a desunião. Vale por dizer: a morte da ideia de que, juntos, os países europeus são mais do que a soma das partes; da ideia de que estarem juntos faz mais sentido do que persistirem separados; da ideia fundacional da Comunidade, até – de que a Europa solidária é uma Europa onde a guerra é impossível.

É daqui, aliás, que nascem as verdadeiras assimetrias, os muros, os protecionismos, as guerras comerciais, os populismos e o medo generalizado.

É assim a partir da América. O aplauso às medidas populistas e proteccionistas do líder mais inesperado de todos os tempos é disso mesmo prova: a maioria da população americana saúda a guerra comercial aberta à China e ao Canadá e parece gostar das ameaças feitas à Europa. Mas na Europa o medo grassa e o populismo cresce.

É por isso que não vislumbro como pode a cimeira dos próximos dias resultar numa posição comum no que diz respeito à política migratória da União Europeia, numa posição comum quanto ao Brexit ou numa posição comum quanto ao próximo orçamento plurianual.

É por isso que é preciso apelar, em Portugal, aos europeístas, democratas e patriotas com provas dadas para que se interessem e participem na condução dos destinos da polis.

E é por tudo o que tenho dito aqui que entendo que Carlos Moedas tem uma experiência, um estatuto e uma craveira privilegiados. Por enquanto, a moeda é única – e Moedas é único.