A experiência da “geringonça” em Portugal parece ser um modelo de governo cada vez mais aconselhável para o Presidente russo, Vladimir Putin, pois a queda da sua popularidade na Rússia obriga-o a tratar com mais cuidado a oposição obediente dos partidos Comunista, Liberal-Democrático e Rússia Justa.

As eleições municipais em Moscovo, que se realizaram no passado Domingo, trouxeram surpresas. A oposição extra-parlamentar, à excepção do Partido “Iabloko”, foi impedida de participar no escrutínio. Não obstante a forte de repressão contra as manifestações da oposição extra-parlamentar (mais de três mil detidos) e a condenação de alguns manifestantes a pesadas penas de prisão, um dos seus líderes, Aleksei Navalny, não apelou ao boicote das eleições, como muitos esperavam, mas ao “voto inteligente” e teve êxito. Segundo o seu apelo, os adversários do sistema político de Putin deveriam votar em candidatos que pudessem vencer os representantes da Rússia Unida, que representa o poder. O resultado foi que a oposição elegeu 20 dos 45 lugares na assembleia municipal (o Partido Comunista conquistou 13 lugares, o Iabloko 4, a Rússia Justa 3 e o Partido Liberal-Democrático outros 3). Isto mostrou que são cada vez mais os moscovitas estão dispostos a votar no diabo para se verem livres do já longo regime de Putin.

É verdade que este resultado não abala o poder do Kremlin, até porque em muitas outras regiões russas onde se realizaram eleições e os resultados foram maioritariamente favoráveis à Rússia Unida e a Vladimir Putin, mas é um antecedente importante. A história do país mostra que os sinais de mudança se revelam, inicialmente, em Moscovo, e depois estendem-se a outras regiões. Este processo poderia ser mais rápido se Putin não contasse com a obediência e a submissão dos dirigentes dos partidos Comunista, Liberal-Democrático e da Rússia Justa, forças políticas que criticam o poder nas palavras, mas que, no Parlamento Russo, votam como é necessário ao Kremlin. Isto é, Putin tem a sua “geringonça”, onde os comunistas desemenham um papel de relevo.

Outro acontecimento importante da última semana foi a troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia (35 de cada lado). A forma como os libertados foram recebidos nos seus países fala por si. Enquanto que o Presidente ucraniano, Vladimir Zelenski, foi ao aeroporto receber os seus concidadãos libertados das prisões russas e publicou o nome deles, o homólogo russo não achou por bem encontrar-se com os homens entregues pelas autoridades ucranianas, nem divulgar os seus nomes. Não convém afixar nomes como o de Vladimir Tzemakh, um dos separatistas pró-russos que alegadamente participou no derrube do avião malaio que provocou a morte de 298 pessoas em Julho de 2014.

Putin não deu luz verde à troca de prisioneiros antes de Zelenski lhe ter garantido que Tzemakh estaria entre eles, o que atrasou o processo. Aliás, foi necessária muita coragem do dirigente ucraniano para ir ao encontro do Kremlin, pois era muita a pressão da Holanda e deputados europeus para que ele não entregasse aquele que poderia ser uma testemunha fulcral no julgamento daquele crime. Mas Zelenski precisava de libertar os marinheiros ucranianos e principalmente Oleg Semtsov, realizador de cinema ucraniano que se encontrava numa prisão russa desde 2014 por se ter manifestado contra a ocupação da Crimeia pelas tropas russas.

Além de cumprir uma das suas promessas eleitorais, Zelenski quis dar um impulso às conversações, no quadro do Quarteto da Normandia (Ucrânia, Rússia, França e Alemanha), sobre a normalização da situação no Leste da Ucrânia. Outro combate importante no plano das relações com a Rússia e bem mais difícil do que a libertação dos prisioneiros. Em relação às regiões separatistas de Donetzk e Lugansk, Putin insiste na política de negar a sua presença militar aí na esperança de continuar a controlar esses territórios, tal como já fez na Transdnístria, Ossétia do Sul e Abkázia.

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