Seja pelos motivos que for, mais tarde ou mais cedo, acabamos todos por recomendar a um filho que é importante que ele não conte tudo a toda a gente. Sem reservas ou sem crítica. Porque nem todas as pessoas podem saber sobre todas as coisas que se passam connosco. É importante “guardar segredo”.

Guardar um segredo acaba por ser um primeiro passo para não tratarmos toda a vida por tu. Como se aprender a não confiar se transformasse numa aprendizagem indispensável, quando se cresce. Não confiar não será, ainda, desconfiar, abertamente. Mas confiar de pé atrás. Ou presumir que há verdades que só poderão ser confiadas a quem as mereça. A priori, a quem seja da família. A quem as guarde e não as “espalhe”. Ou a quem, mais tarde, não as use contra nós.

Um segredo passa a ser, então, uma verdade com “entrada reservada”. Uma verdade escondida. E guardar um segredo uma forma de incentivar uma criança a sentir e a reconhecer quem será de confiança. Antes, ainda, de confiar.

Todos acabamos por ter uma “multidão” de segredos. Os episódios delicadíssimos e dolorosos que nos doem quando os lembramos. As vergonhas que, ainda hoje, nos atormentam. Os nossos pequenos pecados. As “tradiçõezinhas”. Os devaneios. Ou as fantasias. Um segredo não é uma mentira, mesmo que minimalista. Será uma ocultação da verdade.

Sermos verdadeiros e termos segredos não é, aos nossos olhos, tão incompatível assim. Acontece. Se bem que – quando nos apaixonamos, por exemplo – a forma como confiamos os segredos, a “conta-gotas”, e fazemos depender da maneira como eles servem de “cola” entre nós e a pessoa a quem os damos, ajude a entender que os segredos, quando deixam de estar escondidos, nos aproximam. E nos libertam.

A questão que se pode colocar é se, alguma vez, seremos “um livro aberto” numa relação. Ou se será credível a expressão: “não temos segredos uma para o outro”. E a resposta é não. À medida que nos conhecemos melhor – e que teremos menos segredos um para o outro – ocultamos aquilo que, dantes, entendíamos ser indispensável dar a conhecer. Separamo-nos, por dentro, não só quando deixamos de namorar. Mas quando os segredos se transformam numa espécie de bolor que nos separa da verdade.

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