A maioria absoluta, conquistada por António Costa, antevê estabilidade e previsibilidade nas políticas do Governo para os próximos 4 anos. No entanto, apesar do compromisso de diálogo assumido pelo primeiro-ministro, incluindo com o PSD e com o Iniciativa Liberal, não é de esperar uma alteração à política de investimentos prevista no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Confirmando-se o que foi dito até ao momento, existe o risco real de se desperdiçar o potencial pleno destes fundos. Se se insistir em relegar as empresas para um segundo plano, o crescimento económico do país poderá ficar aquém do que poderia ser.  As prioridades de utilização dos fundos do PRR não devem ser exclusivamente canalizadas para colmatar a falta de investimento público dos últimos anos. As empresas são a força motora do crescimento económico.

Tal como aconteceu no passado, com as maiorias absolutas de Cavaco Silva, em 1985 e em 1991, e com a de José Sócrates em 2005, os governos ganharam liberdade e desprendimento a movimentos radicais. Porém a democracia acaba por perder com um efeito perverso, ao esbater-se a capacidade fiscalizadora e de pressão dos partidos moderados da oposição.

Em Portugal, historicamente nenhum líder do maior partido de oposição sobreviveu a um mandato de maioria absoluta. Vítor Constâncio, Jorge Sampaio, Marques Mendes e Manuela Ferreira Leite foram líderes em períodos de maioria absoluta e nenhum conseguiu sobreviver na liderança do respetivo partido. Agora, para o PSD acresce um desafio maior, o facto de não se perspetivar qualquer futuro líder com assento parlamentar.

O PSD encontra-se num verdadeiro colete de forças. Sem um líder presente no parlamento, arrisca-se a perder a dinâmica de oposição para forças políticas de menor dimensão, mas que têm a capacidade de criar momentos mediáticos fortes, como é o caso do Chega e até do Iniciativa Liberal. Ou seja, está limitado pelos dois partidos à sua direita e pelo facto de o futuro líder não ter a sua voz no parlamento.

Esperemos para ver se o PSD consegue reorganizar-se e encontrar um caminho que garanta uma voz forte, numa oposição que pouco ou nada poderá condicionar o governo durante o próximo mandato.

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