Após um diagnóstico de doença cardíaca ou um evento cerebrovascular, é natural que muitas pessoas se sintam frágeis e receosas de realizar algumas das suas atividades diárias, quanto mais praticar exercício físico. O mito de que estes doentes devem evitar a prática de exercício físico ainda persiste na nossa sociedade, mas essa conceção errada pode, na verdade, prejudicar a sua recuperação. A inatividade prolongada é mais prejudicial do que benéfica. Sem movimento, os músculos atrofiam, a circulação fica comprometida e a recuperação torna-se mais lenta. O exercício físico é um dos tratamentos mais eficazes na reabilitação de doentes após eventos cérebro-cardiovasculares, quando realizado de forma ajustada.
O nosso corpo foi feito para se movimentar. Caso contrário, adoece. A prática regular de exercício físico traz uma série de benefícios comprovados cientificamente: fortalece o coração e toda a musculatura do corpo, melhora a circulação sanguínea, ajuda no controlo da pressão arterial e combate outros fatores de risco. Além disso, o exercício é uma ferramenta eficaz para a perda ou gestão do peso corporal, aliviando o stress sobre o sistema cardiovascular. Em doentes que sofreram um acidente vascular cerebral (AVC), o exercício desempenha um papel crucial na recuperação das funções motoras, na redução da atrofia e rigidez muscular.
É importante desmistificar a ideia de que exercício físico é sinónimo de horas no ginásio ou treinos de alta intensidade. Cada vez mais estudos mostram que até mesmo atividades simples, como subir escadas, fazer caminhadas podem ter um impacto significativo na saúde cardiovascular. A questão não é o quão intensamente nos movemos, mas sim o quão frequentemente o fazemos. Pequenos movimentos ao longo do dia, e acumulados ao longo do tempo, podem reduzir substancialmente o risco de eventos cardiovasculares e melhorar a recuperação de quem já passou por eles. Existem vários tipos de treino, o segredo está na regularidade e na progressão gradual, adaptando sempre o plano de exercícios às capacidades e limitações individuais e, preferencialmente, sob a supervisão de profissionais de exercício e de saúde especializados.
Superar o medo de voltar a realizar tarefas exigentes fisicamente após um evento cardiovascular é um desafio significativo. É compreensível que muitos doentes sintam apreensão, mas é essencial que entendam os benefícios do exercício e como pode ser seguro e revitalizante. Os programas de reabilitação cardíaca oferecem um ambiente controlado onde os doentes podem realizar exercício sob a orientação de especialistas, além de receberem educação sobre a sua condição de saúde, como podem geri-la e melhorá-la. A adesão contínua a estes programas de reabilitação cardíaca é crucial para serem alcançados todos os benefícios do exercício, otimizando os resultados e a eficácia da recuperação a longo prazo.
O exercício físico não deve ser apenas uma recomendação médica, deveria ser uma prática obrigatória e essencial para uma recuperação ótima e manutenção da saúde após um evento cérebro ou cardiovascular. Ajuda a retomar uma vida ativa, funcional e satisfatória, proporcionando benefícios, não só físicos, mas também psicológicos, como a redução do stress e da ansiedade e o aumento da autoestima. É fundamental que doentes e familiares se informem e se libertem de mitos que possam estar a dificultar uma recuperação mais plena.
Se está numa situação de recuperação ou de risco, encare o exercício físico controlado como algo imprescindível na sua rotina diária. Consulte profissionais de saúde e de exercício especializados para a elaboração do seu plano individualizado e ajustado de exercícios. Este é o primeiro passo para um coração mais forte e uma vida mais plena. Afinal, a saúde é o nosso bem mais precioso, e o movimento do corpo é uma das chaves para mantê-la.
Vanessa Santos, doutorada, fisiologista do exercício especialista em Exercício e Saúde, com uma ênfase particular em reabilitação cardíaca e patologias clínicas. Tem vasta experiência em investigação científica e docência universitária.
Arterial é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com doenças cérebro-cardiovasculares. Resulta de uma parceria com a Novartis e tem a colaboração da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca, da Fundação Portuguesa de Cardiologia, da Portugal AVC, da Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral, da Sociedade Portuguesa de Aterosclerose e da Sociedade Portuguesa de Cardiologia. É um conteúdo editorial completamente independente.
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