Todos os portugueses estão a ser afetados pela crise COVID-19, mas alguns de nós estão na linha de frente. Não é preciso enumerá-los, pois é em equipa multidisciplinar que os profissionais de saúde arriscam todos os dias a vida para cuidar dos que estão doentes, daqueles que pertencem aos grupos mais vulneráveis, sobretudo, dos idosos e dos que têm doenças crónicas e oncológicas.

A UGT e os seus sindicatos, têm feito tudo para garantir a saúde e segurança dos trabalhadores, exigindo mais equipamentos de protecção individual, a realização de mais testes aos que contactaram com casos positivos de COVID-19 e a contratação de mais recursos humanos que permitam responder às necessidades dos cidadãos.

É preciso reconhecer que cada um tem feito o que está ao seu alcance neste período de verdadeira emergência, seja na comissão permanente da concertação social no caso da UGT, seja através das denúncias de situações irregulares veiculadas através dos órgãos de comunicação social  por parte dos sindicatos (médicos, enfermeiros e TSDT) e até mesmo recorrendo aos tribunais, sendo exemplo disso, o Sindicato dos Enfermeiros interpôs no dia 2 de abril de 2020 uma providência cautelar contra o Estado português no Tribunal Administrativo do Porto para garantir que não faltam equipamentos de protecção individual aos enfermeiros.

A sociedade civil reconhece o trabalho dos profissionais de saúde, seja através da manifestação espontânea convocada nas redes sociais para aplauso dos trabalhadores da linha da frente, seja com doações de EPI, alimentos e outros bens que sabem que estão em falta nas instituições próximas da sua área de residência.

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As fotos publicadas nas redes sociais, onde mostram a exaustão na luta para salvar doentes, tocaram o mundo e ninguém ficou indiferente.

É assim fácil de entender que a segurança e a saúde ocupacional dos profissionais de saúde são fundamentais para permitir que eles façam de modo eficaz e eficiente o seu trabalho durante esta crise e que a sua protecção deve ser uma prioridade.

Então, o que é que ainda pode ser feito? De acordo com um artigo de 1 de abril de 2020, efectuado por Christiane Wiskow e Maren Hopfe, especialistas em políticas sectoriais da Organização Internacional do Trabalho, existem 5 maneiras de proteger os profissionais de saúde durante a crise COVID-19:

1 Garantir a Segurança

É vital assegurar a segurança e a saúde dos profissionais de saúde e do pessoal de apoio (por exemplo, lavandaria, produtos de limpeza e trabalhadores que lidam com resíduos hospitalares). As informações sobre a transmissão da doença devem ser compartilhadas com os profissionais de saúde o mais ampla e rapidamente possível, incluindo informações sobre as diretrizes mais recentes, medidas para prevenir o contágio e como elas devem ser implementadas. O diálogo entre trabalhadores da saúde e empregadores pode garantir que as políticas e procedimentos estão a ser implementados de maneira adequada.

A disponibilidade de equipamento de proteção individual (EPI) é crítica, além do treino e educação sobre como usar esse equipamento correctamente. Além disso, o teste da infecção por COVID-19 deve ser disponibilizado para profissionais da saúde o mais amplamente possível, para apoiar a saúde do trabalhador e a segurança do paciente.

2 Proteger a Saúde Mental

A pandemia confronta os trabalhadores da saúde com situações excepcionalmente exigentes. Além de uma carga de trabalho pesada e, às vezes, situações traumáticas com decisões difíceis e taxas de mortalidade sem precedentes, os profissionais de saúde tem de lidar com o medo de contrair a doença ou espalhá-la para seus familiares e amigos. Lições de outros surtos, como a epidemia de Ébola na África Ocidental em 2014, mostraram que os profissionais de saúde podem sofrer discriminação e estigma, devido ao medo do público de contrair a doença. O fornecimento de apoio na área da Saúde Mental nas equipas, famílias e amigos, juntamente com informações e orientações para os profissionais de saúde sobre como lidar com o estresse e o aconselhamento pós-traumático, precisa ser parte integrante da resposta.

3 Monitorizar as Horas de Trabalho

Em situações de emergência, os profissionais de saúde são obrigados a trabalhar em condições irregulares e às vezes atípicas. Em resposta ao surto, muitos profissionais de saúde estão a enfrentar cargas de trabalho adicionais pesadas, longas horas de trabalho e falta de períodos de descanso. Com as escolas fechadas e a vida pública limitada, os profissionais de saúde também precisam de organizar suas vidas particulares e cuidar dos dependentes. Devem existir horários de trabalho apropriados para ajudar os profissionais de saúde a equilibrar os requisitos de serviços de saúde com suas responsabilidades de cuidados em casa e seu próprio bem-estar.

4 Proteger as Contratações e Voluntários de curto prazo

Para combater a pandemia, assistimos ao recrutamento de curto prazo e voluntários de vários sectores, como militares, trabalhadores aposentados da saúde ou estudantes de medicina e enfermagem, farmácia, psicologia, só para citar alguns. Embora essas medidas pareçam encorajadoras, porque garantem os cuidados necessários, elas devem ser cuidadosamente implementadas para garantir que esses trabalhadores tenham a mesma proteção de emprego que outros trabalhadores. Os governos devem consultar os parceiros sociais para monitorizar e regular esses recrutamentos ad-hoc. Além da segurança e saúde no trabalho, as condições de emprego também precisam de ser abordadas, tais como proteção social, remuneração, períodos de descanso e horário de trabalho.

5 Recrutamento e Treino de mais Profissionais de saúde

É necessário fazer investimentos em todos os sistemas de saúde para que possam recrutar, implantar e reter um número suficiente de profissionais de saúde bem treinados, apoiados e motivados. A pandemia do COVID-19 mais uma vez enfatiza a necessidade urgente de uma força de trabalho forte em saúde como parte integrante de todo sistema de saúde resiliente, e isso agora é reconhecido como base essencial para a recuperação de nossas sociedades e economias e preparação para emergências futuras da saúde.

Reconhecemos assim que este é o tempo de agradecer a coragem destes trabalhadores. Haverá de chegar o tempo de reiniciar a negociação colectiva, de valorizar o especial risco e desgaste associado aos profissionais de saúde, assim como as condições de trabalho e as remunerações ainda bastante abaixo da média europeia para o sector. Até esse momento chegar, Portugal precisa e os portugueses merecem que cada um de nós cumpra a sua parte.