Augusto Santos Silva criticou a fraquíssima qualidade da gestão dos empresários portugueses e os empresários portugueses ofenderam-se, provando assim que o ministro dos Negócios Estrangeiros está certo: um empresário que, em vez de estar a trabalhar, liga ao que é dito pelo Governo português – conhecido por afirmar uma coisa e o seu contrário, às vezes na mesma frase – não pode ser grande coisa.

É óbvio que Santos Silva está certo. Os empresários portugueses são fracos. Por uma razão: são empresários portugueses. Da mesma forma que não há bons astronautas etíopes, bons pescadores suíços ou bons ananases siberianos, é impossível haver bons empresários portugueses. É uma espécie que não se dá bem nestas condições.

Basta isto para justificar o que disse Augusto Santos Silva. Nem é preciso ir buscar números, como o faz aqui Manuel Carvalho, o director do Público, em defesa do ministro. Uma defesa dupla: não só pelos dados que apresenta, como por ser publicada num jornal que só existe, precisamente, devido à incompetência de uma família de empresários que não se importa de manter aberto um sorvedouro de dinheiro, mostrando que a parvoíce empresarial portuguesa é atávica.

A observação de Santos Silva é inatacável e justifica-se, quer pelos números, quer pela vasta experiência de vida do ministro. Não nos podemos esquecer que, em relação a empresários, a fasquia de Santos Silva está altíssima. Afinal, conviveu de perto com aquele que é, sem dúvida, o maior empresário português dos últimos 100 anos. Aliás, para enxovalhar ainda mais os empresários portugueses, o melhor deles todos nem sequer era empresário de formação, era engenheiro. Quer dizer, em rigor também não era bem engenheiro. Mas isso não importa. O que importa é que Santos Silva assistiu de perto à máquina de fazer dinheiro que era José Sócrates, alguém tão bom a gerir que até conseguia lucrar em negócios que não se realizavam. Quem não se lembra daquele terreno em Angola que não chegou a ser vendido, tendo o sinal ficado para os vendedores, o que, segundo o MP, foi uma forma de Sócrates receber luvas? Enfim, cotejado com o Sócrates que Santos Silva viu actuar durante os seis anos em que foi seu número 2, qualquer empresário passa por bronco. É natural que Santos Silva se pergunte, e bem, porque é que os empresários portugueses não seguem o exemplo de empreendedorismo de Sócrates e insistem em ter a situação fiscal regularizada, pagar salários sem ser em envelopes e cumprir a lei no geral. É uma questão que gostaria de ver analisada num futuro ensaio sociológico de Santos Silva. Infelizmente, como Santos Silva só se dedica à academia quando o Governo não é socialista, temo que tal estudo nunca venha a ser efectuado.

Embora concorde com Santos Silva, julgo que o problema das empresas portuguesas não são os empresários. A questão está a montante. Em Portugal, os empresários são maus, mas os investidores são péssimos. O investidor português é alguém sem critério que está sempre disposto a pôr dinheiro em negócios ruinosos. Por exemplo, todos os anos, contribui para o capital do Estado e, todos os anos, quando quer usufruir dos dividendos, lixa-se. Vai ao hospital, só o atendem daí a três anos. Mete o filho na escola, não há professores. Quer passear no Alto Alentejo, cai a estrada. Quer passear na Beira, arde a estrada. Apesar disso, no ano seguinte, vai alegremente ao aumento de capital, que é cada vez maior. E, passados quatro anos, reconduz o Comissão Executiva sem pensar duas vezes. Com esta falta de exigência dos investidores, não se pode esperar grande brio aos empresários.

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