Nas últimas décadas, os fenómenos meteorológicos extremos têm-se tornado mais frequentes e intensos, despertando preocupação crescente. Furacões que antes pareciam distantes da realidade europeia estão agora a tornar-se uma ameaça mais concreta. Este aumento de tempestades, como o recente furacão Milton, está diretamente ligado ao aquecimento global, e o anticiclone dos Açores tem sido uma das barreiras mais eficazes para proteger a Europa e, em particular, Portugal contra estes eventos devastadores. No entanto, as mudanças no clima global colocam este sistema de alta pressão em risco, com consequências para a nossa segurança e o nosso clima.

Os furacões são alimentados por águas quentes do oceano. Quando a temperatura da superfície do mar ultrapassa os 26,5°C, gera-se calor e humidade suficientes para criar zonas de baixa pressão, intensificando os ciclones tropicais. Este processo natural tem sido amplificado pelas alterações climáticas. À medida que as temperaturas globais aumentam, os oceanos acumulam mais energia, criando condições perfeitas para a formação de furacões mais fortes e frequentes.

A intensificação rápida, como vimos no furacão Milton que passou do nível 3 para o nível 5 em poucas horas, é uma consequência direta deste aquecimento. A queda abrupta da pressão atmosférica em curtos espaços de tempo, permite que as tempestades ganhem uma força imensa em pouco tempo, tornando-as imprevisíveis e extremamente perigosas. Estes fenómenos representam uma ameaça crescente não apenas para regiões tropicais, mas também para países fora do alcance tradicional de furacões, como os da Europa.

A Europa tem sido historicamente protegida contra a maioria dos furacões graças ao anticiclone dos Açores, um sistema de alta pressão situado no Atlântico Norte. Este anticiclone desvia as tempestades tropicais e os furacões, impedindo que atinjam diretamente o continente europeu. Funciona como uma barreira natural que protege países como Portugal, Espanha e França dos efeitos devastadores de ciclones tropicais.

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Esta proteção tem sido fundamental para manter o clima relativamente estável e a segurança costeira no sul da Europa. O anticiclone dos Açores desempenha, portanto, um papel crucial na regulação do clima regional, ao manter as tempestades afastadas e assegurar que os ventos quentes e secos prevaleçam sobre o Atlântico, promovendo o clima ameno que caracteriza grande parte da Península Ibérica.

Contudo, este sistema de proteção natural está sob ameaça. À medida que as temperaturas globais aumentam, os padrões de circulação atmosférica estão a mudar. O aquecimento dos oceanos pode alterar a posição e a intensidade do anticiclone dos Açores, tornando-o menos eficaz na sua função de desviar furacões. Um anticiclone mais fraco ou deslocado poderá expor a Europa, e em particular Portugal, a tempestades tropicais e furacões que, até recentemente, raramente atingiam estas latitudes.

Já existem sinais desta vulnerabilidade. O furacão Leslie, que em 2018 atingiu Portugal com intensidade, foi um alerta claro de que os padrões meteorológicos estão a mudar. Leslie sobreviveu à travessia do Atlântico e chegou à Europa, o que era anteriormente considerado um evento muito improvável. Este episódio, que causou inundações e prejuízos significativos em várias regiões de Portugal, pode tornar-se mais comum nas próximas décadas, à medida que o anticiclone dos Açores enfraquece devido ao aquecimento global.

Portugal, em particular, poderá enfrentar consequências climáticas graves com a possível alteração ou enfraquecimento do anticiclone dos Açores. O nosso clima ameno e temperado, que atrai milhões de turistas todos os anos e sustenta a nossa agricultura, está diretamente ligado à influência da Corrente do Golfo e do anticiclone dos Açores. Se estes sistemas forem perturbados pelas alterações climáticas, poderemos assistir a um aumento da frequência de tempestades, invernos mais rigorosos e verões mais secos e quentes.

Além disso, a vulnerabilidade das nossas zonas costeiras aumenta com a possibilidade de furacões chegarem a Portugal. As infraestruturas costeiras e as populações nas áreas litorais, como Lisboa e o Algarve, correm o risco de sofrer danos significativos. A economia, altamente dependente do turismo, também será impactada à medida que os fenómenos meteorológicos extremos se tornem mais frequentes.

As alterações climáticas estão a redesenhar o mapa dos riscos naturais em todo o mundo, e Portugal não é exceção. Embora o anticiclone dos Açores tenha até agora desempenhado um papel fundamental na proteção do país, o seu enfraquecimento pode mudar drasticamente o nosso futuro climático. É essencial que as políticas de mitigação e adaptação às alterações climáticas sejam uma prioridade nacional e europeia.

O anticiclone dos Açores tem sido um escudo vital para a Europa, mas as alterações climáticas ameaçam este sistema crucial para a nossa proteção. À medida que os oceanos aquecem e os padrões climáticos mudam, tanto a Europa como Portugal poderão enfrentar tempestades mais frequentes e intensas. Preparar-nos para este futuro incerto é não só uma questão de sobrevivência, mas também de preservação do nosso modo de vida.