Eu vou casar esse ano. Vamos casar porque nós dois queremos e vamos fazer festa porque nós dois queremos. Ambos embarcaram nessa porque quiseram. Mas confesso, nesses primeiros meses, ter descoberto que sou uma espécie de anti noiva. Na verdade, me descobri uma anti noiva no que tange a estar dentro dos padrões que o mercado das festas de casamento nos impõe.

Explico-me: num dado momento ouvi a fatídica pergunta “as toalhas serão brancas, off white, marfim ou pérola?”. Branco. Off white. Marfim. Pérola. Eu nem sabia que off white era uma cor. Foi aí que eu senti meu estômago revirar e suspirei, me perguntando se eu iria aguentar este trajeto até o fim.

Começaram debates estranhos sobre o tipo de papel utilizado no convite, sobre a altura do vaso que vai no centro da mesa ou sobre a cor da forminha na qual repousarão os doces. Eu esfrego meus olhos de forma irritada, pensando nos prazos que tenho que terminar no escritório.

Outro dia alguém me perguntou se eu iria padronizar os vestidos das madrinhas. Eu nem entendi a pergunta. Insistiram, perguntando se eu não iria definir a cor dos vestidos das madrinhas. Eu caí na gargalhada, disse que não consigo nem decidir o meu, muito menos pensar nos vestidos das madrinhas. Fiquei me imaginado gritando para as madrinhas ‘VOCÊ VAI DE VERDE, HELENA, NÃO QUERO NEM SABER SE VOCÊ GOSTA HELENA, É VERDE E PRONTO”. Gente, é sério que isso existe?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Eu e o noivo gostamos de pensar em ideias maravilhosas, regadas a vinho, como colocar baratas de plástico dentro dos convites para assustar as pessoas ou denominar mesas com características físicas, como “mesa dos carecas”; “mesa dos barrigudos”; “mesa dos estrábicos”. Sem dúvidas produziríamos festas de aniversário de 7 anos melhor do que estamos produzindo um casamento.

Nossa sorte foi ter encontrado um assessor tão louco quanto nós, que embarca um pouco nas nossas ideias inúteis, mas limita-as cordialmente. Se nos deixassem, o casamento tornaria-se facilmente algo semelhante a um circo. Duas ou três vezes fui dizer “no nosso casamento” e disse “no nosso carnaval” por engano. Mas não sei se ideia é tão equivocada assim.

Sei que é muito fácil embarcar no padrão tradicional de cerimónia, jantar, sequência de músicas e arremesso do buquê. E que nos tratam quase como insanos se tentamos fazer algo que tenha mais a ver com os noivos, fugindo um pouco dessas regras supostamente intransponíveis envolvendo o corte do bolo, o brinde com espumante e as fotos posadas.

Nós seguimos firmes, remando contra a maré. E seguimos, acima de tudo, negando esta hipótese de nos tornarmos figuras surtadas, que ficam histéricas por causa de uma alteração na caligrafia no convite ou por causa de um canapé de salmão que não saiu como esperado.

Às vezes me parece que as pessoas esquecem que uma festa de casamento deve ser uma fonte de alegria, de integração das famílias e de infinitas razões para comemorar. Transformaram os casamentos em eventos megalómanos que são pura fonte de stress durante meses, para gerar 150 belas fotos de suposta felicidade numa única noite.

Não quero embarcar nisso não. Pode ser branco, off white, pérola, marfim, verde bandeira ou vermelho sangue, desde que não vire objeto de tensão. Pode ir de vestido amarelo, xadrez ou roxo de bolinhas, desde que esteja contente e feliz pelos noivos. Pode ter canapé de salmão, sopa de cebola ou cachorro quente. Essa noite serve para celebrar o amor e não para provar nada para ninguém.