Neste momento, discutem-se, em todo o mundo, medidas de prevenção, contenção e tratamento para o novo Coronavírus (Covid19). A esta preocupação real, séria e que todos deve fazer refletir, juntam-se medidas para atenuar a instabilidade atual, pensar e projetar o futuro, bem como para dar resposta aos projetos que ficaram suspensos com a propagação desta pandemia.

Louvo a decisão da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) em terminar, neste momento, todas as competições, uma vez que não conseguimos precisar com exatidão o fim desta pandemia. Volto a sublinhar que concordo com a decisão de término dos campeonatos, pois a segurança e saúde pública estão acima de qualquer entidade ou prova, no entanto, tenho outra opinião quanto à forma como os campeonatos finalizarão: sem subidas nem descidas, sem títulos de campeões atribuídos.

Ora vejamos, quando se planeia uma época desportiva são definidos objetivos a curto, médio e longo prazo, tal como acontece numa empresa, que se espera que no final do ano tenha atingido o lucro X com a despesa Y. No futebol também se delineiam (ou deveriam delinear-se) objetivos, assim como em qualquer um desporto.

Na próxima época, aquando da definição dos objetivos para as equipas, é provável que os técnicos e dirigentes se perguntem se os mesmos deverão ser traçados “jogo a jogo” ou, no limite, mensalmente, uma vez que, desta forma, não incorrerão no risco de não atingir — temporalmente — as metas a que se propõem.

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Mas não, não é assim que deveremos trabalhar, tal como não deveria ser assim o final da época 19-20! Uma equipa que lutou a época toda, trabalhou semanalmente para conseguir uma subida, vê agora o trabalho, esforço e os fins-de-semana que perderam na companhia das famílias (porque tinham jogo), desperdiçados. Também no final da tabela encontramos um outro senão. Quem lutava para não descer, sem grandes exibições para se “manter” na divisão onde competia, chegando a deixar de acreditar na sua manutenção e, portanto, facilitando a cada jogo, vê agora a manutenção ser garantida, mesmo sem a merecer.

O Lema Olímpico é Citius, Altius, Fortius, isto é, “mais rápido, mais alto, mais forte”. O que aqui está patente é a mensagem de superação, de colocarmos o máximo esforço no que fazemos para conseguir atingir os resultados que pretendemos. As equipas, que adotaram este lema no início de época, estão agora desiludidas e tristes com o facto do seu esforço ter desaparecido num ápice.

Outro lema informal, que muitos atribuem à motricidade humana determinada por um conjunto de regras que visa a competição, é o de que “perder ou ganhar é desporto”. Quando proferimos o conteúdo da mensagem não devemos interpretar que “ganharmos ou perdemos é a mesma coisa”, o que devemos apreender é de que temos de saber ganhar ou perder, mas que no desporto há um vencedor e um perdedor, mesmo dando o máximo esforço de si.

Sei que perante esta pandemia será difícil decidir quem vai ganhar ou, até, quais os moldes mais justos para todas as equipas. Na minha opinião, não há condições para retomar os campeonatos de formação, mas também não podemos apagar o trabalho todo de uma época desportiva. Ao todo, foram 120 treinos (para uns mais), mais de 18 jogos (oficiais), fins de semana perdidos, e acima de tudo laços criados de companheirismo e amizade que vão permanecer, mas que foram sustentados por este trajeto. O que faria, e digo eu que não tenho autoridade sobre o assunto, sendo apenas um treinador com opinião, passaria pela contagem dos pontos no final da 1ª volta de todas as equipas. Neste momento já todas as equipas jogaram entre si, já conseguimos aferir os patamares competitivos em que os clubes se encontram, assim seria mais justo, não se apagando o trabalho de uma época, mas também não seriamos injustos para aqueles que têm calendários mais desfavoráveis mediante o nível competitivo dos adversários e que já realizaram alguns jogos da 2ª volta.

É importante também refletir sobre outro agente desportivo, muitas vezes negligenciado, o árbitro! Os profissionais do apito também estão dependes de avaliações, classificações, sujeitos a maus e bons trabalhos, uns agouram outros patamares, entretanto outros não conseguiram ter prestações de determinado nível que lhes permitam continuar nos patamares em que estão. Tal como os atletas, treinadores e dirigentes, perderam fins-de-semana, com dois a três jogos e alguns até cinco, e, caso esta época seja desconsiderada, também eles perdem o esforço de meses de trabalho.

Globalmente estão a ser tomadas medidas tendo em consideração o passado, o presente e o futuro das pessoas. No futebol também têm de ser tomadas medidas com essa índole. Não podemos fugir da realidade, nem podemos apagar o registo desportivo desta época, não podemos favorecer no futuro quem não garantiu, por mérito próprio, a continuidade em determinada divisão.

Reitero que esta minha opinião é enquanto agente desportivo, a equipa que treino não sairá beneficiada nem prejudicada com esta medida.