Estou no Japão, em Nara, para o congresso da Associação de empresas familiares com mais de 200 anos, que dá pelo nome de Henokiens. Henok é uma personagem da Bíblia que morreu com duzentos anos. Daí o nome.
É importante o papel desta associação, num mundo que se encontra numa constante instabilidade, em que se põem em causa os valores humanos que desde sempre consideramos, em que se tentam criar novas realidades, sem qualquer fundamento científico. Esta associação representa aquilo que a humanidade mais valoriza: a estabilidade, a confiança, a comunidade de interesses e de vida, baseadas nesse elemento fundamental que é a família.
Para uma empresa resistir 200 anos é essencial, sem qualquer dúvida, que esta seja produtiva e rentável. Sem isso a empresa morre e o projeto acaba. Mas todas as empresas passam, ao longo da sua vida, por momentos mais ou menos difíceis e são esses momentos que acabam por decidir a continuidade da empresa. E quanto maior for o seu tempo de vida, maior é o número de situações de dificuldade que a empresa tem de enfrentar e maior é o risco de não sobreviver.
É fácil ter sucesso em momentos de crescimento económico, mas uma empresa produtiva e rentável pode não sobreviver a situações de crise como é, por exemplo, uma situação de guerra. Ora, uma empresa com duzentos anos teve de passar por várias crises muito graves, como foram as pandemias, as guerras, as revoluções, as crises económicas e as financeiras, para além de todas as crises provocadas pelas evoluções naturais de cada negócio através da inovação que existe constantemente no mundo.
Nestes momentos, muitas vezes, a eficiência e a eficácia da qualidade da produção da empresa não resolvem por si só as dificuldades criadas.
Nestes momentos, conta mais a garantia de que as pessoas que trabalham e que asseguram a vida da empresa, se mantêm na empresa, que dão o seu melhor para aguentar a dificuldade, e que estarão lá depois para garantir a sua recuperação.
É a estabilidade que garante a continuidade. Ora, isto só é possível se as pessoas que trabalham nessa empresa tiverem a consciência de que essa empresa é também o seu projeto de vida, e isso apenas se consegue se houver uma relação de partilha entre todos os que compõem essa empresa.
Para que os trabalhadores de uma empresa se sintam suficientemente responsáveis pela sua sobrevivência, ainda que tenham de suportar condições de grande exigência e dificuldade, é fundamental que esses trabalhadores tenham sido integrados no projeto empresarial como verdadeiras pessoas, com projeto de crescimento e de realização pessoal consistente, que tenham participado na partilha do rendimento que a empresa obtém e que participem nas decisões que afetam as suas vidas. No fundo, que sejam tratados como parte da família que criou o projeto empresarial.
São as empresas familiares aquelas que defendem o salário digno como objetivo para os seus colaboradores, que se preocupam com as pessoas que lá trabalham e que se responsabilizam pelo seu desenvolvimento.
Pois são as empresas familiares com mais de dois séculos aquelas que, por terem sido fiéis a este conceito de respeito pela pessoa humana, mostram ao mundo que esse é o verdadeiro caminho para um futuro de sucesso.
São estas empresas que mostram que apenas nos valores da família, do respeito pelas pessoas, pela partilha e pela responsabilidade, se pode criar uma estabilidade de vida, se pode assegurar uma continuidade para entregar ao país e aos seus cidadãos o desenvolvimento por elas criados durante séculos.