Isso mesmo. O histerismo não é bom, não só porque a maior parte das vezes é exagerado, mas porque também nos leva a atitudes desnecessárias.
Há uns tempos, durante o período de férias académicas, mergulhei de cabeça na Netflix onde me refugiei sensivelmente durante quatro dias. A razão é simples: comecei a ver a série original da Netlix, Years and Years. A série britânica procura desenvolver o dia-a-dia de uma família tradicional Inglesa em 2019, relacionando o seu quotidiano com os problemas políticos, sociais, tecnológicos e económicos do país. Com o desenvolvimento da série rebenta um escândalo político. Nesse momento uma das personagens confessa ao seu namorado como sentia saudade de não se interessar, de maneira alguma, por política. Finaliza, ao explicar que esse sentimento remonta ao ano de 2008. O que este diálogo nos retrata é que o constante interesse pela atividade política é muito recente. A classe política, sempre esteve sujeita ao escrutínio público mas, na realidade, a maioria das pessoas sempre olhou para a política com a maior das indiferenças. Hoje, a história é outra.
Se tivermos atenção à data proferida pela personagem – 2008 — rapidamente nos apercebemos que não é uma data qualquer. É a data da crise financeira internacional. É a data em que uma geração perdeu tudo. É a data em que as pessoas perderam a confiança na banca e no Estado. É a data que marca o início da vontade individual de querer saber tudo o que se passa à sua volta, assim como emitir opinião sobre todos os temas. E bem… Calma, será?
Sim, é verdade. Pois efetivamente todos temos direito à liberdade de pensamento ao mesmo tempo que todos temos direito à liberdade de expressão – independentemente da razão (porque nem todos temos razão.) Mas é preciso ter moderação no que se diz e na forma como se diz.
Mas porque é que peço a moderação? Porque entrar em cegueiras nunca deu resultado e também não dará daqui em diante. Quem não sofrer de memória curta, rapidamente se lembrará que a eleição de Trump para presidente dos EUA se deve, entre outras coisas, ao enorme histerismo dos meios de comunicação social e dos mais variados agentes políticos que se opuseram ferozmente ao atual presidente norte-americano. O que eu pretendo demonstrar não é saber se o deviam ter feito ou não — porque fazer oposição é um pilar da democracia que deve ser posta em prática. O que não deve existir é espaço para histerismos mediáticos contra uma pessoa porque, isso, certamente terá o resultado contrário ao pretendido. O Trump, o Brexit e o Bolsonaro são o maior exemplo disso. Alvo de um massacre mediático que lhes deu a força necessária para saírem vencedores.
Acontece que esse histerismo voltou ao contexto político, desta vez em Portugal.
A eleição de André Ventura reanimou os supostos defensores da democracia e da tolerância, e como não podia deixar de ser, o “social-democrata” Bloco de Esquerda. Mas não só. São inúmeras as pessoas que não gostam de André Ventura e das suas políticas e, portanto, não tardaram em apelidar o líder do Chega de extrema-direita. Mesmo não concordando com esse rótulo, o que não pode existir é espaço para acontecer aquilo deu a vitória a Trump ou a Bolsonaro – mas é exatamente isso que já está em marcha. André Ventura é o político na ordem do dia, o que lhe dá ainda mais mediatismo (algo que ele gosta e precisa.)
Por incrível que pareça e custe ouvir a muita gente, André Ventura não é burro nenhum – o que não significa que a sua postura e posição politica sejam as mais corretas. A sua capacidade ficou evidente no último “Prós e Contras” onde, de maneira arrojada e corajosa, conseguiu expressar todas as suas ideias deixando os seus adversários de debate muitas vezes sem resposta. O grande problema e pelo que realmente deve ser confrontado, deve-se ao facto de se ter rodeado de grupos populistas que vivem sobre um vácuo de ideias.
O fundamental deve ser o ataque à falta de ideias sérias e ao populismo que estes grupos representam.
Ideias erradas e distorcidas são facilmente vencidas por ideias democráticas e claras. Posturas de gozo, desonestidades e histerismos já deram provas que não funcionam.
O recurso ao insulto acontece devido à falta de argumentos. E esses não faltam. Basta pensar ou acompanhar de forma atenta o que fazem os políticos.
Não voltemos à postura de 2008. Mas não caiamos também nos erros de 2016.