Pedro Nuno Santos, o homem que perdeu ganhando. Pedro Nuno Santos é um caso. Não um caso sério ou um caso menos sério. Também não é um caso de falta de jeito. Nem de falta de preparação intelectual. É um caso de falta de senso.
Nos tempos que correm o senso anda arredado dos critérios de avaliação. Elogia-se a inteligência, a perspicácia, a combatividade e sei lá que mais mas nada se diz sobre o senso. Percebe-se porquê: com o seu quê de prudência e capacidade de julgamento em função das circunstâncias, o senso acabou por cair no espectro do conservadorismo e daí o seu ocaso nos valores mediatica e socialmente exaltados. Contudo devia dar-se a maior atenção ao senso porque ele é fundamental para a manutenção da paz e do bem estar nas sociedades. Mas não só. Como a actual situação política portuguesa ilustra à exaustão o senso ou mais precisamente a capacidade de transmitir uma imagem de alguém ligado aos valores do senso comum é fundamental num líder. Afinal foi o menosprezo pelo senso que levou Pedro Nuno Santos e o seu círculo mais próximo a saírem derrotados nesta crise do orçamento, apesar de na prática a terem ganho pois não só conseguiram alterar substancialmente esse mesmo orçamento como ainda têm a possibilidade de o continuar a alterar, agora na especialidade.
Aquele tropel de dizer e desdizer que visto de fora se resume a vencemos o governo no orçamento mas afinal não viabilizamos o orçamento que nós mesmos alterámos só faz sentido para quem vive fechado na bolha da política e que, por conforto material e muito isolamento social, não percebe que no mundo real há muito se perdeu o fio à meada.
Pedro Nuno Santos conseguiu a proeza de ser o homem que perdeu ganhando unica e exclusivamente pela sua absoluta falta de senso. Para quem o apoia tenho uma má notícia: ao contrário do que acontece com outras lacunas ou até defeitos, a falta de senso não se corrige. Apenas mudam as circunstâncias em que se manifesta.
O estranho caso do caso que não é caso. Ou a fúria do ministro Paulo Rangel. Comecemos pelo caso em si mesmo: a 4 de Outubro aterrou em Figo Maduro o voo de repatriamento de portugueses que se encontravam no Líbano. Dadas as circunstâncias em que estes portugueses regressavam ao país estavam a recebê-los o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, o comandante do Aeródromo de Figo Maduro, coronel Abel Oliveira, e o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, general João Cartaxo Alves. A dado momento, Paulo Rangel ter-se-á dirigido ao general Cartaxo Alves “de forma ofensiva e aos gritos”. Menos vocal mas bem expressivo foi o que se terá passado entre o ministro e o comandante do Aeródromo de Figo Maduro, coronel Abel Oliveira: Paulo Rangel virou-lhe as costas, deixando o coronel Abel Oliveira de mão estendida
Na base desta inśólita situação terá estado uma questão protocolar que deixou descontente o ministro dos Negócios Estrangeiros. O que não deixa de ser em si mesmo uma desculpa esfarrapada porque se o ministro estava ofendido com uma questão protocolar não devia ele mesmo criar mais duas gravíssimas questões protocolares, sendo que uma delas foi com o próprio Chefe do Estado-Maior da Força Aérea.
Perante tudo isto não sei o que causa maior perplexidade: o despropósito e o descontrolo de Paulo Rangel obviamente são preocupantes. Mas igualmente preocupante é o silêncio que caiu sobre o assunto: o presidente República que note-se é o comandante supremo das Forças Armadas declara “não foi notificado, por nenhuma entidade competente, dos alegados eventos” e nos meios de informação à excepção do “Tal&Qual” e do “Correio da Manhã” mal se deu pelo assunto. Os partidos da oposição tão pressurosos a pedir explicações aos ministros por qualquer assunto também olham para o lado ou manifestaram-se de forma tão discreta que não se deu por isso. Luís Montenegro que está a caminho de ser o homem que ganha mesmo e sobretudo quando perde também não foi incomodado com tal assunto. Mas se é verdade o que “Tal&Qual” relatou e o “Correio da Manhã” fotografou estamos perante um comportamento inadmissível do ministro dos Negócios Estrangeiros. O estranho caso do caso que não é caso é mesmo muito estranho.
André Ventura e o síndroma do prematuro. Aquilo a que por aí se chama pouca confiabilidade de André Ventura em muitos momentos mais não é que a manifestação duma espécie de síndroma do prematuro. Não estou obviamente a referir-me ao que pensa o líder do Chega mas sim à forma como actua.
André Ventura e nisso é acompanhado por Pedro Nuno Santos, queria chegar onde está hoje mas age como se tudo lhe tivesse acontecido antes do tempo. Com os seus 50 deputados, André Ventura parece uma criança a quem deram um estojo de química e que de repente percebe que há uma grande diferença entre as experiências na realidade versus às dos anúncios.
André Ventura tem tido coragem, sorte e instinto político. Quando este último falha como notoriamente aconteceu nas últimas semanas convém não abusar da sorte nem confiar em excesso na coragem. Até porque se ele, André Ventura, continua insubstituível no Chega o mesmo não se pode dizer do próprio Chega: naquela área política não faltam candidatos a replicar o modelo. É tudo uma questão de oportunidade.