Ao ano de 2024 caracterizou-se, em Portugal, por uma mudança política que, apesar de parecer que seria pouco fracturante, se manifestou muito mais radical do que era esperado.
A transferência de poder de uma governação socialista para uma coligação entre sociais democratas e democratas cristãos foi muito menos uma transição entre ideologias, que têm sido tradicionalmente moderadas e centralistas, e muito mais uma mudança radical de comportamentos que alinha pela radicalização a que temos assistido por esse Mundo fora.
Ainda que seja notória a abertura à integração de serviços privados no apoio aos sectores da saúde e da educação, que haja uma maior abertura à privatização de algumas funções, é na forma como se enfrentam os problemas que assistimos a uma clara mudança de comportamento e que, acredito eu, se vai focar o combate político do ano de 2025.
Enquanto que a governação socialista optava por disfarçar os problemas, tentando esconder os seus resultados, esta nova governação, e na minha opinião, por uma influência importante da participação do CDS nesta solução governativa, tem optado por uma frontalidade na resolução dos problemas.
Esta frontalidade, que resolve, está a assustar a esquerda em geral e o partido socialista, em especial, pois isso poderá vir a ser aquilo que pode despoletar o crescimento da votação deste governo junto dos eleitores.
A questão da saúde, que apesar de ter tido um problema grande de comunicação, se começa a solucionar, a colocação de professores, também com um problema de comunicação inicial, está consideravelmente melhor do que na governação anterior, a questão da imigração, da segurança, das questões salariais das forças de segurança e outras, têm surgido junto do público com uma imagem de que há uma vontade de fazer avançar este país e isso terá inevitavelmente repercussões na aceitação desta solução governativa por parte da população.
Ora, para a oposição, isto é claramente uma ameaça que tem tentado evitar, tanto a esquerda como a direita.
Se por um lado a direita do governo se vê ameaçado por atitudes que resolvem os problemas que foram a sua bandeira nas últimas eleições, por outro a esquerda sente-se ameaçada por ser cada vez mais evidente, que os problemas que o seu governo afirmava não existirem estão cada vez mais reconhecidos pela própria população.
Bom exemplo desta esquizofrenia política foi a reação da oposição ao que se passou no Martim Moniz.
Uma operação policial de rotina, que nunca foi alvo de comentário político nas vezes anteriores em que foi levada a cabo e que não resulta de qualquer influencia da governação, porque preocupa excepcionalmente aquelas duas oposições, foi alvo de um debate político, que acredito ter resultado num reforço da apreciação positiva do governo e da noção clara de fragilidade da oposição.
Por um lado André Ventura, para reforçar a sua posição de preocupação com a segurança dos portugueses veio afirmar que o seu partido, se governasse, faria operações destas, naquele local todos os dias.
Isto é, não só, uma impossibilidade, pois seria impraticável ter capacidade para que isso fosse realizável, como é algo que poucos portugueses considerariam como adequado a uma vida em democracia que tanto lhes custou a conseguir.
Por outro lado, a esquerda tenta, através de uma insistente batalha pela manutenção do sistema da avestruz, de esconder a cabeça para não reconhecer o desastre, continuar com a ideia de que esta decisão mostra que o governo está a forçar um aumento do controlo da segurança sobre zonas e pessoas que a polícia considera serem de risco, e que a maioria da população concorda.
Toda esta luta, a que pretendem chamar de política, mas que é essencialmente de contrariação de atitudes, acabará, na minha opinião, por nos levar a uma situação semelhante à que se vive em França e que resulta do desaparecimento de um partido de esquerda central e moderado como foi tradicionalmente o PS, tenderá a radicalizar ainda mais as opções dos eleitores e haverá, durante algum tempo uma força central que manterá o poder, sem que seja verdadeiramente uma solução para o futuro do país.
A única alternativa será um governo que se mantenha firme nas suas convicções sobre a vida em democracia e sobre a forma de trazer desenvolvimento a Portugal, assumindo o compromisso de que, em todas as restantes matérias relacionadas com a vida da população, esta será sempre escutado e as medidas serão tomadas no sentido de lhe dar o maior conforto na sua vida.
É fundamental deixarmos de ter políticos que se sentem mais sabedores do que todos os seus concidadãos.
É tempo de servir, mais do que ser servido.
É tempo de nos unirmos e não de nos radicalizarmos.