Nas últimas semanas fomos fustigados por torrentes de supostas afirmações descontextualizadas, depois desmentidas, corrigidas ou negadas. Em vez do debate de ideias e de políticas são debates dos “ditos e não ditos” . Parece que as fronteiras entre o real e o ilusório se desvanecem. Às vezes mais parece uma recusa obstinada em reconhecer factos objetivos, esses que tecem a tapeçaria da nossa realidade compartilhada no dia a dia. Parece que mergulhamos  num mundo virtual, em que querem separar-nos em fações como se fossemos peças de um tabuleiro manipulado por mãos invisíveis em que cada grupo é fechado na sua própria bolha, nutrindo-se das narrativas que ecoam nas suas caixas de ressonância, renegando qualquer vislumbre de verdade que não se alinhe com as próprias convicções. É como se um véu de sombras obscurecesse a luz da razão, desvirtuando a percepção e alimentando-se da desinformação. Em crescimento no tempo de campanha eleitoral, a polarização política é uma ameaça ao tecido da democracia. Em ambiente hostil, a nuance é perdida, o diálogo é abafado e a democracia é sacrificada. O monolitismo de opiniões é uma armadilha perigosa que aprisiona a sociedade  numa mentalidade de “nós contra eles”, onde a nuance é perdida, o diálogo é sufocado e a empatia é descartada. A divergência é vista como traição e a opinião dissidente como uma ameaça, criando uma cultura tóxica de intolerância e conformidade forçada.

Uma consequência perigosa desse monolitismo é a erosão da democracia, onde o salutar confronto de ideias é substituído pela batalha tribal, e o bem comum é sacrificado em nome da vitória partidária. O país tem questões complexas, que exigem soluções multifacetadas e colaborativas, que não podem ser relegadas a meros jogos de poder, impossibilitando o progresso e comprometendo o futuro.

Além disso, o monolitismo tem um impacto devastador na saúde mental e emocional, forçando as pessoas a abafar a sua consciência e sacrificar a sua autenticidade em favor da conformidade com os grupos dominantes. O medo do ostracismo social cria uma cultura de auto-censura e alienação, minando o sentido de identidade e pertença a uma sociedade democrática.

Para combater este perigo crescente, é imperativo cultivar a capacidade de pensar e expressar opiniões de forma crítica e independente, desafiar as narrativas dominantes, explorar uma variedade de perspetivas e estar dispostos a admitir a complexidade do mundo em que vivemos. A empatia e o respeito pelos outros são essenciais para construir pontes e superar as divisões que nos separam.

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No entanto, mesmo diante deste cenário sombrio, há centelhas de esperança. A verdade, embora obscurecida, nunca está verdadeiramente perdida. Há que resistir à tentação de demonizar aqueles que pensam diferente de nós e procurar ativamente oportunidades para ter conversas significativas com pessoas  que têm experiências e pontos de vista diferentes. Embora esses encontros possam ser menos confortáveis, são essenciais para expandir os nossos horizontes e desafiar os nossos preconceitos.

Para criar uma cultura de diálogo é crucial conhecer a nossa identidade, a nossa história, cultivar a habilidade de pensar de forma crítica e independente. Estar dispostos a questionar as narrativas dominantes e explorar uma variedade de perspectivas antes de formar as nossas próprias opiniões. devemos praticar a empatia e o respeito pelo outro, mesmo quando discordamos profundamente das suas opiniões. Reconhecer a humanidade comum em todos nós é essencial para construir pontes e superar as divisões que nos separam e encontrar terreno comum.

Isso requer humildade intelectual e uma disposição para reconhecer a complexidade do mundo em que vivemos.