A nova crise política iniciada há poucas semanas com as denúncias que giravam – e girarão – em torno da TAP, envolvendo o possível total de milhares de milhões de capitais, tem sido revelada por sucessivos golpes financeiros e por mudanças gestionárias que hão-de acabar por ser mostradas aos peritos internacionais, se e quando isso ocorrer, e um dia à «opinião pública»…

Entretanto, o partido socialista conseguiu, como tem feito desde o «golpe da geringonça» no final de 2015, conservar o poder partidário e suceder a todos os inesperados percalços a que tem sobrevivido desde a pandemia, cujo financiamento europeu o PS não consegue gastar já lá vão anos desde o fim da década passada! Esse financiamento, como os outros de que o país é suposto beneficiar gratuitamente desde a adesão à UE, continuará a ser absorvido pelos dois partidos dominantes e os seus funcionários, não passando um dia sem que se descubra que o PS e o PSD mais uma vez se apoderaram do «bolo»!

Estas acusações proferidas taco-a-taco serviram apenas para o PS atacar o PSD na altura em que o primeiro-ministro «meteu no bolso» a tentativa do Presidente da República para demitir o ministro Galamba, responsável pela crise. Como expliquei na altura, o PR não tinha e continua a não ter poder para demitir os membros do governo, pelo que António Costa o pôs de novo no cargo sem excluir a hipótese de correr com ele em breve! Dias depois, António Barreto confirmava que o PR não possuía tais poderes, o que não deixa aliás de admirar da parte de um professor de Direito. Depois da triste cena do «tribunal parlamentar», Galamba e os seus colegas foram chamados à lamentável cena de uma espécie de «absolvição» que o PS, com a sua «maioria absoluta», enterrou logo… até se ver livre desses infaustos agentes do poder socialista!

No mesmo artigo citado, António Barreto considera que um presidente da República, embora eleito directamente pela cidadania, não devia ter o poder de mandar o parlamento para casa e convocar novas eleições. Pessoalmente, discordo e a constituição portuguesa dá-me por ora razão. Com determinadas regras, é isso que Rebelo de Sousa pode mas, segundo António Barreto, dão deve. Embora ele não o diga explicitamente ou eu não o tenha compreendido, imagino que Barreto crê que o actual PSD poderia até «ganhar as eleições», mas não teria nem terá tão cedo as ideias e a organização necessárias para, só ou em aliança, assumir a gestão política do país.

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Inversamente, o PS nada sabe nem quer saber sobre o que se está a passar no país mas, em contrapartida, controla todos os mecanismos, sobretudo os financiamentos europeus. Basta ver a forma como a comunicação social e as autoridades mais próximas do PS denunciaram em poucas horas os delitos eventualmente praticados ou «magicados» por agentes do PSD, enquanto o PS protege Fernando Medina e um «colega» do antigo presidente da câmara de Lisboa… Só quem nunca se cruzou com os meandros das instituições semi-públicas e/ou semi-privadas, como a Câmara Municipal e/ou a Misericórdia de Lisboa, é que ignora os benefícios marginais a que as redes partidárias podem ter «acesso».

A dimensão da crise sócio-económica populista e mesmo miserabilista pela qual o país tem passado, desde os «bónus» aos «aumentos» antecipadamente engolidos pela inflação internacional, continua a multiplicar-se com a guerra e as suas despesas directas e indirectas. Nada disto, obviamente, passou pelo PSD e muito menos pelos partidos menores, que ignoram a crise e a futura evolução mundial, quando não a desprezam.

Há algo, quanto às práticas e às ideias promovidas pela evolução partidária, que se explica pelo golpe parlamentar da «geringonça», que durou quatro anos desde o fim de 2015 até quase ao termo de 2019; por dois anos de continuidade e, por outro lado, pela conquista de uma escassa maioria eleitoral em Janeiro de 2022 (41%) até à presente crise. Em suma, 7 anos e meio sem objectivos nem planificação. Apenas o dinheiro da UE para «tapar os buracos».

Durante esse período, Costa mais não fez do que atirar dinheiro avulso para cima da economia de consumo, incluindo o turismo e a renacionalização bilionária da TAP! Enquanto a «troika» havia controlado a enorme dívida criada pelo Eng.º Sócrates, o PS não resistiu a manter a dívida pública bem acima dos 100% do PIB.

Foi neste âmbito que os dois partidos conservadores se dissolveram. Enquanto o CDS praticamente desapareceu, o PSD afastou-se completamente da política de crescimento de Cavaco Silva (1985-95) e o novo líder, Rui Rio, entregou-se a um «debate político-cultural» que o levou a circular inutilmente entre o Norte e o Sul e a abandonar a liderança a um líder local desconhecido pela maioria… Assim sendo, não é Rebelo de Sousa que fará frente aos manifestos limites não só eleitorais como políticos e europeus do actual PSD.