A decisão do PCP em não estar presente no discurso por videoconferência de Zelensky não é propriamente inovadora. Diga-se de passagem, o PCP não é propriamente o partido da “inovação”. O PCP não só não inova como não evolui. E também nunca gostei do verbo “evolução” — as coisas mudam, mas não evoluem necessariamente, mas é certo que a mudança é uma constante. A realidade obriga-nos a encará-la. Encarar a mudança passa por adaptarmo-nos à mesma, mesmo que discordamos do rumo que está a tomar. No reino da política, essa aceitação e adaptação trata-se de um sinal de maturidade. O Partido Comunista Português não só não aceita a mudança como não se consegue adaptar à realidade dos novos tempos e ao mundo pós-Guerra Fria. Apesar de ser o partido mais antigo do país, mostra sinais de imaturidade e de negação para com realidade, completamente alarmantes. Novidade? Nenhuma.
Corria o ano de 1985 quando os ventos da mudança sopravam e o imperialismo soviético estava em declínio económico e político, prestes a conhecer o seu fim. Os EUA, potência desafiante da URSS, eram liderados por Ronald Reagan, que não só liderava o combate, como personificava esses novos tempos dotados de confiança e de optimismo.
Em Maio desse ano, Ronald Reagan faz uma visita oficial a Portugal e é convidado para falar na Assembleia da República. Obviamente que o partido satélite do PCUS, dado o seu anti-ocidentalismo primário, protestou e decidiu não comparecer no discurso de Ronald Reagan naquele órgão de soberania.
O presidente norte-americano e ex-actor (é engraçado ver como a História consegue ser poeta em dados momentos) que era conhecido pelo seu sentido de humor, assim que começou a falar, após uma calorosa recepção da parte dos deputados portugueses, dirigiu as suas primeiras palavras aos ausentes: “I am sorry that some chairs on the Left seem to be uncomfortable”. O auditório luso, que há data nunca esteve bem treinado nesta descontração de espírito, que é apanágio dos políticos anglo-saxónicos, deixou soltar uns risos tímidos. No entanto, foi um claro sinal de desprezo. Hoje, dada a gravidade da situação na Ucrânia, não houve espaço para risos, mas o desprezo continua lá e neste caso, bem.
Desengane-se quem acredite que o PCP só sente desconforto naquelas cadeiras quando um líder pró-ocidente é convidado a falar na casa da democracia. Lembremo-nos de que o PCP de 2022 continua a ser o PCP de 1985, de 1976, de 1921. Desengane-se quem ache que isto pode ser denominado coerência. Tão pouco é ter espinha dorsal, é só pura teimosia e reacionarismo do avesso. O PCP continua a ser o herdeiro de uma tradição autoritária que esmagou Budapeste na década de 1950, como ainda hoje na década de 20 do século XXI suprime as liberdades fundamentais no norte da península da Coreia. Esta tradição autoritária, não ama a nação, o indíviduo e a liberdade, mas antes prefere o comunitarismo e a uniformidade.
O PCP sempre sentiu um grande incómodo em se sentar naquela casa, justamente porque é a Casa da Democracia. Democracia é algo que não se encontra no ADN do PCP, por mais faixas de apoio à “Democracia de Abril” que possam ser confeccionadas nas suas sedes livres de IMI.
Ronald Reagan foi dos primeiros a notar e a alertar que eles não se sentiam confortáveis na casa da democracia. Agora, os portugueses não têm desculpas. Que esta seja de vez, porque neste momento é a nossa Democracia que não está confortável com a presença do PCP.