Num tempo em que somos constantemente inundados por informação ao alcance da palma da mão através de um telemóvel de última geração, cuja relevância não temos tempo de assimilar de forma conveniente, nem de analisar os seus benefícios e eventuais desvantagens de modo a efetuar escolhas bem fundamentadas, é relevante que marque já na sua agenda o primeiro congresso do SNE – Sindicato Nacional dos Enfermeiros, no próximo dia 12 de abril de 2023, onde abordaremos o futuro da saúde e o papel dos enfermeiros no sistema de saúde em 2030.

O SNE estabeleceu desde o seu início como fundamental a harmonização entre o processo formativo, as novas competências e o seu reconhecimento como a melhor forma de melhorar a qualidade dos cuidados prestados pelas enfermeiras e pelos enfermeiros nos diferentes níveis. É imperativo reconhecer que os milhares de enfermeiros de cuidados gerais, enfermeiros especialistas e enfermeiros gestores têm um grau de diferenciação e educação avançada que deve ser colocado ao serviço da população e um dos nossos principais objetivos é promover o reconhecimento deste percurso formativo, enquadrado na melhor evidência científica disponível. Deste modo, pretendemos assegurar que os enfermeiros que se dedicam diariamente a contribuir no planeamento, gestão e implementação dos programas de saúde e atividades adicionais vejam as suas remunerações e carreira devidamente valorizadas.

Nos próximos anos e aproveitando a experiência do combate à pandemia e o sucesso dos programas de vacinação é impreterível utilizar os nossos recursos humanos mais qualificados como motores para cuidados de saúde novos e sustentáveis em Portugal e ​​no resto da Europa. A nossa aposta assentará na compreensão do papel dos enfermeiros, enfermeiros especialistas e enfermeiros gestores, nos diferentes contextos, reconhecendo que isso deverá constituir a base para um sistema de saúde com elevado desempenho. A evidência científica diz-nos que a padronização da educação está associada a melhores resultados de saúde, melhor qualidade no atendimento, mais oportunidades para melhorar os sistemas gerais de saúde e contribui decisivamente para a sustentabilidade dos mesmos.

A educação e o desenvolvimento profissional contínuo acompanham os enfermeiros durante toda a sua carreira, sendo que é reconhecido por todos que a saúde está a mudar e que as exigências e as necessidades dos cidadãos estão a também mudar. Os sistemas de saúde têm de enfrentar os desafios relacionados com o envelhecimento da população, o aumento da carga de doenças crónicas e ajustarem-se às restrições de recursos públicos. Nesse sentido, é necessário redesenhar os fluxos de trabalho, o desenvolvimento da força de trabalho, os programas de educação e alocação de recursos para garantir a sustentabilidade dos sistemas nacionais de saúde. Os enfermeiros representam um facilitador fundamental para essa transição. O crescimento de novas tecnologias, novos dispositivos e técnicas de diagnóstico requer competências técnicas que incorporem a digitalização e que vão para além do conhecimento tradicional. A passagem de um ambiente de cuidados hospitalares dedicado aos cuidados agudos para a comunidade e para os cuidados domiciliários, na maior parte das vezes cuidados de longa duração, exigem um maior envolvimento e preparação dos enfermeiros, enfermeiros especialistas e enfermeiros gestores.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Os currículos académicos têm de acompanhar os novos papéis a desempenhar pelos enfermeiros, sendo que se devem tornar obrigatórias áreas que têm sido subvalorizadas como a Liderança, Empreendedorismo, Gestão da Inovação, Digitalização, Gestão de Projetos, Marketing, entre outras.

Estes novos desafios, carecem de planeamento estratégico acerca dos novos papéis e responsabilidades dos enfermeiros nas diversas especialidades e domínios. Neste campo, é claro que os sindicatos não podem estar ausentes da discussão, sendo necessário, um esforço conjunto entre as diferentes entidades representativas dos enfermeiros, incluindo a entidade reguladora e as instituições de ensino, para que se alcance o sucesso.

Todos reconhecemos que a valorização do trabalho e dos trabalhadores tem de passar do discurso para a ação concreta. A níveis de desgaste e risco elevados, competências especializadas e alto desempenho têm de corresponder carreiras dignas e remunerações justas. Não é possível obter cuidados de saúde de alta qualidade sem captar e reter os melhores e mais qualificados quadros. O desperdício da capacidade formativa e dos diferentes níveis de especialização dos enfermeiros chega a ser chocante. É possível fazer melhor, com menos custos. A aposta nos milhares de licenciados em Enfermagem, nos enfermeiros especialistas nas diferentes áreas (Reabilitação, Saúde Materna e Obstétrica, Saúde Mental e Psiquiátrica, Comunitária, Médico-Cirúrgica e Saúde Infantil e Pediátrica) e nos enfermeiros gestores permitiria aumentar a qualidade de forma eficiente e é isso que demonstra a evidência disponível. Será que Portugal pode continuar a desperdiçar, continuadamente, novas gerações de talentos? Obviamente que não.