Segunda-feira, com pompa e circunstância, com o alto patrocínio da Comissão Europeia e ajuda do FMI, Mario Draghi anunciou o seu Plano, que segundo o próprio “é o que a União Europeia deve fazer se quiser sobreviver”, pois a ameaça “é existencial”.

De acordo com Draghi, o projecto europeu está ameaçado quanto à capacidade de concretização dos seus valores originais, nomeadamente o de prosperidade, num contexto de estagnação e falta de competitividade, agravado na comparação directa com os seus principais concorrentes: Estados Unidos e China.

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Além de pretender simplificar a regulação europeia, criando um Comissário Europeu da Simplificação, a aposta será feita na contínua “descarbonização”, com aposta em energias limpas, na inovação, na economia digital e na segurança e defesa europeias.

O quadro abaixo indica os principais itens e os montantes que deverão ser aplicados (EUR billion = milhares de milhões Euros):

Portanto, estamos perante necessidades de financiamento de cerca de 800 mil milhões de euros por ano, durante 5 anos.

Ursula von der Leyen, na sua intervenção posterior à apresentação de Draghi, explicou-nos que o orçamento comunitário não tem folga para tais montantes, pelo que a única alternativa será avançar com a criação do instrumento de dívida comum europeia – dívida mutualizada, onde todos os estados-membros são responsáveis.

Além da dívida comum, para permitir a “agilidade” necessária, será preciso terminar com a regra da unanimidade na tomada de decisão comunitária e passar à maioria simples.

Naturalmente, estes dois passos prometem levantar celeuma e agravar dissensos junto dos estados europeus mais eurocéticos. Estes, provavelmente irão alegar que tal implica a instalação da “ditadura da maioria” na UE, algo que desde o início da fundação do projecto europeu foi visto como contendo elevado risco de desagregação das vontades, pois retira liberdade aos países que não concordam com as decisões da maioria.

A Originalidade do Plano Draghi

Ou, melhor, a falta de originalidade do mesmo Plano.

Draghi, perante o que foi feito de intervenção europeia nas economias europeias, propõe a ruptura com o feito anteriormente, mantendo o mesmo rumo, com uma vertente de “simplificação” e muita retórica sobre o “aumento da produtividade”.

Nada refere de substancial quanto à resolução do problema energético europeu. Não aponta sequer a energia nuclear como modo de compensar o abandono das energias de base carbono, e insiste no caminho que temos feito com as energias renováveis, não fiáveis e caras.

Segundo Draghi, depois de 66 anos de integração europeia, “ainda não atingimos o verdadeiro Mercado Comum” – o caminho é entregar-lhes todo o poder! -, e portanto as empresas europeias não conseguem atingir a dimensão suficiente para concorrer com os outros blocos.

“The lack of a true Single Market also prevents enough companies in the wider economy from reaching sufficient size to accelerate adoption of advanced technologies.” 

O Essencial do Plano

A hubris centralista (“Planeamento Central” – apela-se ao conhecimento do leitor sobre os países socialistas e comunistas) das entidades que julgam poder regular e intervir no mundo através de planos “perfeitos” e capazes de gerar “crescimento”, “abundância”, e “prosperidade”, fica perfeitamente clara ao ler-se O Plano.

O volume de capital que estará disponível para “investimento” lançará uma nova onda de corrida aos fundos europeus. Algo que já foi feito antes e com os resultados que constatamos de estagnação, perda de competitividade e rendimento.

Será, no entanto, muito bom para angariação de apoios declarados ao projecto europeu. – Enquanto o financiamento “rolar”, “todos seremos europeístas”.   

Nada nesta ronda de investimento resulta do crescimento natural da capacidade orgânica de autofinanciamento das economias europeias. Trata-se, isso sim, de lançar mais dívida em cima da dívida de estados já no limite do endividamento. Por outro lado, o Sr. Draghi não nos explica que não existe poupança privada para tal loucura, pelo que a compra desta dívida virá diretamente do Banco Central Europeu, ou seja, mais inflação e redistribuição de riqueza, mas ao contrário de Robin dos Bosques: dos pobres para os ricos.

Esta dívida mutualizada irá garantir o aprofundamento da vertente federalista, criando, assim, mais obstáculos a uma possível saída, uma barreira que o Reino Unido não enfrentou.

Ou seja, em conclusão, o Plano Draghi é o Federalismo Europeu, tentando fazer “diferente”, com os mesmos instrumentos que criaram a actual estagnação.

Veremos como será discutido, e se será (?) aprovado pelos 27.