Se para alguma coisa serviu a rábula do Ricardo Araújo Pereira no “Isto é gozar com quem trabalha” deste domingo, foi ver a quantidade de jornalistas a perguntarem a Luís Montenegro se o PSD algum dia fará uma coligação com o Chega, cada um deles à espera de uma resposta menos correta (de acordo com o mantra existente) com que possa fazer manchete condenatória no seu jornal, rádio, canal televisivo.
Isto quando estamos a 3 anos (dois?) das eleições legislativas e não podemos supor quais vão ser os resultados.
Algum destes jornalistas perguntou na campanha de 2015 ao PS se o PS , ficando em segundo lugar iria fazer uma geringonça com a extrema esquerda populista, anti mercado, anti nato e defensora da saída do Euro?
(O PSD devia tê-lo feito e infelizmente não o fez. Excesso de cavalheirismo de Pedro Passos Coelho e incapacidade para acreditar que tal coisa fosse possível)
O tema da rábula não devia ser as respostas de Montenegro mas a insistência dos jornalistas num tema que poderá ter razão de ser na altura da campanha eleitoral mas que agora está completamente fora de tempo.
Estes indignados anti populistas trouxeram-me à memória uma das intervenções mais importantes de Sá Carneiro (discurso do Vimeiro), pois é com esse discurso e esse sentido, que inicia a retoma do PSD que se vai prolongar até à maioria absoluta e Governo da AD. (AD que tinha o CDS, na altura estigmatizado como o partido dos fascistas do antigo regime)
“Temos de ir, como Partido, ao encontro dos interesses e aspirações dos portugueses e não devemos recear que nos chamem de populistas. O que é esse populismo afinal, que hoje está tão em voga e que se atira à cara daquelas figuras que não sabem interpretar os interesses das pessoas? Se ser populista é realmente, saber captar o sentido da realidade das pessoas e saber exprimir os seus anseios e as suas angústias, as suas frustrações e os seus desejos, então eu digo que ser populista é ser uma pessoa verdadeiramente democrática. Não podemos esquecer que não há políticos sem eleições e que não há políticos sem governantes, sem os votos, e quem os dá é o Povo e ao Povo o deve ser apresentado.
E o que nós combatemos e temos combatido sempre é a demagogia, demagogia que temos visto praticada intensamente e praticada por uma elite que se não quer populista. E eu pergunto, então que sistema é esse que rejeita o populismo, um sistema de elite, que divorciada do sentido dos portugueses, é isso que querem alguns dos nossos políticos? Manter-se uma elite bem alimentada e próspera, enquanto a Nação segue a cruz do seu Calvário. É aí que nós temos que dizer, em nome da Democracia, é errado, que o populismo que nos querem atirar à cara não é nenhum defeito, antes pelo contrário é nesse sentido uma verdadeira virtude”
O Povo é quem mais ordena e assim, como eu escrevi neste artigo que Durão Barroso fez publicar há mais de 20 anos no Povo Livre
Ora as eleições não são um jogo para premiar um vencedor (o mais votado); são um instrumento democrático essencial para encontrar o Governo que tenha o apoio da maioria (>50%) dos deputados proporcionalmente eleitos. Só assim será legítimo e disporá da indispensável força e estabilidade.
É saudável que os Partidos reclamem dos eleitores uma Maioria absoluta de votos. Mas se estes não lha derem têm de que retirar que a opinião soberana dos eleitores foi a de que a não deviam ter e que por estes foram assim condenados a fazer uma Coligação de Partidos para Governarem. Não podem é continuar a considerar como legítimo que apenas os votos de uma minoria dos eleitores sirvam para sustentar um Governo.
Mandará a prudência e bom senso que o Presidente da República ouvidos os partidos e tendo em conta os Resultados Eleitorais e consequente distribuição de deputados na Assembleia da República, designe para Primeiro-Ministro quem lhe garanta ter apoio Maioritário na Assembleia, sem prejuízo de a primeira pessoa a quem caiba tentar formar governo e conseguir o apoio maioritário da Assembleia seja o designado pelo Partido mais votado. Obviamente se este o não conseguir deve de imediato informar o Presidente da República e endossar as responsabilidades ao segundo Partido. Nas Democracias é assim. Uma maioria (sem entraves) no Governo e uma minoria (de mãos livres) na oposição.
Assim sendo, defendo que o meu Partido, o PSD, faça desta questão um dos temas centrais e corajosamente se apresente aos eleitores para Liderar o Governo, se a área não socialista tiver maioria na Assembleia, ou, caso contrário, para em nome dos seus eleitores ser Oposição, votando, como legitimamente lhe compete e os eleitores decidiram, contra Programas de Governo de outros.
Aquilo que forem os resultados das próximas legislativas é que irá determinar se serão precisas coligações ou acordos e quais. Serão os portugueses, com o seu voto e de acordo com as regras da democracia, que irão determinar que Governo querem.
PS1. E se há pergunta (inútil) que os jornalistas se podem entreter a fazer, é perguntar ao PS se, caso seja necessário, viabilizará um governo do PSD para este não precisar do Chega.
PS2. E para aqueles que agitam com o papão do Chega e dizem que foi a indefinição do PSD em relação ao Chega que deu a vitória ao PS e à esquerda, os números são muito claros a mostrar que “a direita” no seu conjunto teve mais 244 670 votos que em 2015 e mais 549 282 que em 2019 (+ 6,8%). E que o 388 126 votos que o PS aumentou relativamente a 2019, foi buscá-los todos à sua esquerda, que perdeu mais de 416 000 votos (depois do chumbo do OE o eleitorado à esquerda percebeu que a governabilidade à esquerda só seria possível apostando no PS; não teve nada a ver com o Chega).