Portugal foi eliminado nos quartos de final do Mundial do Qatar frente à seleção de Marrocos, uma seleção teoricamente mais fraca em individualidades e sem historial relevante, que pela primeira vez chegou às meias finais de um Mundial de Futebol.

Esta pesada derrota levou à mudança do ciclo de Fernando Santos, saindo antes do final do contrato previsto para 2024, deixando assim a liderança da “melhor equipa de sempre” de Portugal, que, pela primeira vez, ao contrário das outras campanhas em mundiais, tinha jogadores para todas as posições: a começar no estreante prodígio Diogo Costa na baliza (embora tenha ficado mal na fotografia do golo de Marrocos), aos centrais Ruben Dias e o “monstro” Pepe, dos melhores extremos do mundo, Cancelo, Rafael Guerreiro, Dalot e Nuno Mendes, a passar pelo meio-campo de luxo com William Carvalho (de volta à boa forma), Otávio, Bruno Fernandes e Bernardo Silva, e a acabar na frente de ataque com o “extraterrestre” e super-recordista (nunca esqueçamos isto) Cristiano Ronaldo a liderar as hostes, onde ainda couberam o recém “hat-tricker” Gonçalo Ramos, o revitalizado (e de que maneira) João Félix, André Silva, só faltando o lesionado Jota – uma verdadeira seleção de sonho que quando joga se ao luxo de deixar no banco jogadores como Palhinha, Rafael Leão, Vitinha e Rui Patrício. Nem Pepe Guardiola contaria com tanto talento para uma equipa sua!

Então o que correu mal? Portugal forma jogadores de excelência, coloca-os a jogar nos melhores clubes das melhores ligas europeias com os melhores treinadores mundiais, cria o centro de alto rendimento das seleções nacionais – a Cidade do Futebol, em Oeiras – e dá condições de estágio ao nível das melhores seleções mundiais. Há capacidade instalada, mas os resultados estão aquém.

O que falta a esta seleção para ser campeã mundial? O que falta a Portugal?

Durante o Mundial, a generalidade dos comentadores da especialidade foram criticando Fernando Santos, mesmo após vitórias, denunciando a sua forma de jogar defensiva, não deixando espaço aos criativos jogadores portugueses para explanar o seu futebol ofensivo no campo e, fait divers da novela CR7 à parte, os atletas portugueses em campo tiveram avaliações positivas na generalidade das opiniões do comentário desportivo. O problema aparenta ser do modelo de jogo, da ausência de ambição, não sendo uma equipa ofensiva de A a Z, do primeiro ao último minuto, correndo ao invés atrás do prejuízo quando sofre um golo ou quando o tempo escasseia.

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Fernando Santos foi para a Seleção o que o PS é para o País, ambos com mais de 8 anos no comando, ambos sem arriscar, ambos preferem defender o que ainda não conquistaram e ambos não promovem a iniciativa individual (leia-se privada). Pelo contrário, desconfiam desta. Preferem um regimento ordenado e limitado do potencial de Portugal à gestão inteligente desse potencial disponível, arriscando perder um desafio, na fezada de que tudo acabe por correr bem. É o “mais vale uma mão cheia de nada”.

Se Fernando Santos receava perder o controlo dos jogos e preferia mantê-lo castrando o ímpeto e a criatividade dos seus jogadores, para, depois de estar a perder, mudar de paradigma e no final afirmar que “esperava mais da iniciativa individual”, o PS de António Costa faz igual: prefere controlar a TAP com maioria do capital para, a seguir, depois desta entrar em falência, entregar o problema à iniciativa dos privados, esperando que estes o resolvam. Prefere tirar o dinheiro dos Portugueses através de uma carga fiscal castradora para depois devolver em serviços ineficientes. Prefere cobrar IRS primeiro, e depois, se eventualmente o ano correr bem, devolvê-lo. Prefere cancelar as PPPs que o tribunal de contas documentou como vantajosas do que pagar serviços eficientes (e mais baratos) aos privados. Prefere criar empresas estatais do que remunerar a iniciativa privada. Prefere não reformar e controlar do que inovar. Prefere portanto o comando técnico da estatização à gestão competitiva da iniciativa privada.

É gestão de controlo versus gestão do talento instalado. Os protagonistas usam a mesma receita, mas um vive na ilusão de que a coisa vai correr bem e nos penaltis resolve, o outro sabe que não vai correr bem, mas cria ilusão para manter o poder.

E assim tem passado a seleção e o país, ambos com as melhores gerações de sempre, ambos com o maior potencial instalado de sempre e ambos à espera de um milagre: se Fernando Santos não soube extrair a criatividade de uma equipa recheada de estrelas, o PS de António Costa desespera por um milagre do crescimento que teima em não aparecer. E, entretanto, fomos eliminados por Marrocos e vamos sendo ultrapassados pela Roménia!