Há uns anos atrás acompanhei, num qualquer canal estrangeiro, uma entrevista realizada em inglês ao José Mourinho. Perguntaram-lhe como é que Portugal tinha tanto talento no futebol, ao que este respondeu que “sendo um país tão pequeno” o talento só poderia vir da “paixão do povo” pelo jogo.

Não pretendo aqui debater as razões do talento futebolístico nacional (embora discutível), mas sim contestar uma “verdade” que nos incutiram desde o berço: “Portugal é um país pequeno e periférico”. A frase é repetida quase diariamente por pivots de TV, políticos, líderes de opinião e até alguns empresários.

Alguém duvida ou se atreve a negar o ‘statement’ de que Portugal é um país pequeno? Alguém questiona a condição de sermos pequenos, poucochinhos e de vivermos nos arrabaldes da Europa? Numa península trancada pelos Pirenéus, que faz de nós praticamente uma ilha?

(Quase) ninguém.

Ora bem, façamos o exercício de negação freudiana, recorrendo a factos para perceber se Portugal é um país pequeno e periférico.

Um país pequeno?

Segundo o World Population Review, em 42 países europeus, Portugal é o 18º maior país da Europa com uma área de 92.090Km2, estando acima de países como a Áustria, a Irlanda, a Dinamarca, os Países Baixos, a Suíça e a Bélgica. Se considerarmos a Zona Económica Exclusiva Marítima, Portugal é o 3º maior país dos 27 países da União Europeia, só abaixo da França e do Reino Unido. A nível mundial, em 257 países identificados, Portugal fica na 111ª posição, acima das posições médias (127º e 128º) onde estão por esta ordem a Croácia e a Bósnia Herzegovina, dois países também Europeus.

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Se afinal não somos pequenos em tamanho (terra e mar), vejamos então a população: segundo a Worldometer, que identificou 48 países europeus, Portugal ocupa o 14º lugar com 10,197 milhões de habitantes, acima de países como a Suécia, Hungria, Bielorrússia, Dinamarca, Finlândia, Irlanda e Bulgária. Vejamos ainda a população face ao território, que é o mesmo que dizer em densidade populacional: nesses mesmos 48 países europeus, Portugal fica em 23º lugar, ou seja uma posição acima do meio do ranking que é ocupado pela Áustria (24º lugar).

Portugal é, no quadro europeu e mundial, um país de dimensão acima da média, com a 14ª maior população da Europa, imagine-se!

Um país periférico?

O sermos periférico virá das esferas geográfica-política-económica. Esta é uma discussão mais complexa e não tão factual.

Mas façamos um ensaio: somos o país mais ocidental da Europa, tendo como único vizinho terrestre a Espanha (tal como a Escócia face à Inglaterra, mas à partida pior, porque são uma ilha). Do ponto de vista marítimo, somos o país europeu mais próximo dos EUA, de toda a América do Sul e de boa parte dos países africanos (Oeste e África Austral). Quem diz marítimo, diz também aéreo, fazendo de Portugal um autêntico ‘hub’ mundial entre três continentes.

Dirão os mais catastrofistas (pequenos) que Portugal está afastado dos grandes centros de decisão do diretório constituído por Berlim, Londres e Paris. Se sim, então a Islândia (também uma ilha), a Finlândia ou mesmo a Noruega não estão tão ou mais isolados do que Portugal?

Por outro lado, a tese de que ser vizinho de um país rico, tornar-nos-ia ricos, é verdadeira? A Polónia e a República Checa partilham fronteira com a Alemanha – e já agora são maiores em área e população do que Portugal – no entanto apresentam ambos pior PIB per capita.

Apregoarão os mais céticos (pequenos) que tem a ver com acontecimentos históricos do passado. Mas a História é aquilo que nos querem contar e aquilo que queremos ouvir. E é também aquilo que queremos escrever para o futuro.

Sermos “pequenos” é uma classificação afetiva que nos incutiram e que tem circulado por gerações. É um preconceito e um grande equívoco nacional que colide com a realidade dos factos e que tem servido de argumento usado pelos nossos líderes para a nossa fatalidade e pequenez geral, seja ela económica, social, desportiva (exceto no futebol) ou política.

Portugal é um país de dimensão acima da média e está no tripé dos países com maior população na Europa. É dos países mais centrais no Mundo e a sua língua é a 9ª mais falada. É ainda o país com mais horas de Sol por ano na Europa e está em 34º país com maior Índice de Desenvolvimento Humano, segundo a ONU, em 189 países.

Agora digam comigo alto e em uníssono: “Portugal é um país acima da média!”.

Pronto, já podemos focar-nos nos verdadeiros entraves ao crescimento da nossa economia e deixarmo-nos de tretas!