A reação da esquerda portuguesa à vitória do Syriza ficará na história da política portuguesa como o dia de todos os disparates. Entende-se que o Bloco de Esquerda celebre a vitória do Syriza, dada a proximidade entre os dois. As celebrações do PS e do PCP são incompreensíveis. O “PS grego” (o PASOK) teve cerca de 5% dos votos. Alguém consegue perceber o que celebrou o PS? Quanto aos comunistas gregos (ideologicamente muito próximos dos portugueses) alcançaram 5,5%. Será que o PCP comemorou o facto dos comunistas gregos terem mais 0,5% do que os socialistas gregos?

Alguns dirigentes do PS encontraram rapidamente argumentos para justificar a sua dupla alegria: a vitória do Syriza e a derrota do PASOK. O deputado João Galamba excedeu-se no disparate. Notem o raciocínio. A derrota do PASOK resultou da sua coligação com a direita, a Nova Democracia. Eis assim a lição grega: se um partido de esquerda se alia à direita, corre o risco de extinção. O que acontecerá então a um partido de esquerda, o Syriza, que se alie a um partido de extrema direita, como os Gregos Independentes? Estará Galamba, com a sua esperteza fulgurante, a anunciar já o fim do Syriza? Pode ter mais razão do que julga. Ou, pelo contrário, para Galamba, a aliança com a extrema direita constitui a receita para uma vida política cheia de sucesso? Se o pensamento de Galamba fizer doutrina por essa Europa fora, ainda nos arriscamos a ver o PS francês aliar-se à Frente Nacional ou os trabalhistas britânicos ao UKIP.

Com a mesma tese, Galamba ataca as opções políticas de uma série de partidos socialistas europeus, parceiros do PS no mesmo grupo político do Parlamento Europeu. Na Áustria, na Alemanha, na Irlanda, na Holanda, os respectivos partidos da família socialista estão aliados a partidos de direita. O deputado socialista renega ainda a história do seu partido, que se aliou aos PSD e ao CDS durante momentos de crise, e não consta que tenha desaparecido. O objectivo desta linha do PS é impedir uma coligação do PS com o PSD (ou o CDS) após as eleições deste ano, e legitimar o BE como um parceiro de coligação.

António Costa tem que ter cuidado com a tentação fácil de procurar créditos políticos nas vitórias de outros. O fracasso e a divisão do Syriza é o cenário mais provável. A associação da sua credibilidade política ao futuro do novo governo grego parece um acto de quase suicídio. Daqui a uns meses, poderá arrepender-se desta onda de entusiasmo grego e de ter dado uma imagem de precipitação e irresponsabilidade aos portugueses. Se a receita do Syriza fracassar, os portugueses poderão deixar de olhar para o PS como uma alternativa de governo credível. Se os socialistas se associam a projectos políticos que fracassam, por que razão os portugueses iriam votar no PS? As vozes sensatas do PS, como Francisco Assis ou Vital Moreira ou outros, não têm nada a dizer? Vão assistir à “blocalização do PS” em silêncio?

 

 

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