1 Confesso-vos: há muito tempo que não lia um texto tão intelectualmente desonesto e uma prova tão gritante de falta de espírito democrático. Falo do conselheiro Luís Noronha de Nascimento que, para mal dos pecados deste país, foi presidente do Supremo Tribunal de Justiça entre 2006 e 2013 e de um texto publicado no último número da revista da Associação 25 de Abril — que pode consultar aqui (págs. 8 a 33). — no qual acusa o Ministério Público (MP) e a Polícia Judiciária (PJ) de promoverem investigação criminal “em campo aberto à previsível manipulação e interferência políticas.” Na prática, Noronha de Nascimento quase que cita ipsis verbis a ladainha que José Sócrates e de Lula da Silva sempre tiveram contra a Justiça.

O texto de Noronha de Nascimento já era previsível. Porquê? Porque a poucas semanas do juiz Ivo Rosa dar a conhecer ao mundo a sua visão final sobre a acusação da Operação Marquês, vão surgindo aqui e ali vozes do passado a adubarem o terreno para a machadada que esperam que o dr. Rosa dê à investigação contra José Sócrates. Além de gente ligada pessoalmente ao ex-primeiro-ministro ou ao PS, temos também representantes da Justiça que olham para o trabalho que os tribunais, o MP e a PJ têm vindo a realizar nos últimos anos contra o crime económico-financeiro como um ataque frontal ao sistema opaco, burocrático e pouco transparente que  personagens como Noronha herdaram do Estado Novo e que reformaram em torno dos protagonistas do novo regime. Um sistema em que a minoria dos escolhidos são protegidos por um sistema cheio de alçapões, bermas de segurança anos e recursos intermináveis e a maioria, a arraia miúda, é vergastada rapidamente e em força em processos penais ultra rápidos.

2

Este artigo é exclusivo para os nossos assinantes: assine agora e beneficie de leitura ilimitada e outras vantagens. Caso já seja assinante inicie aqui a sua sessão. Se pensa que esta mensagem está em erro, contacte o nosso apoio a cliente.