Todos conhecemos as consequências dos danos reputacionais para o prestígio das empresas e os riscos que podem prejudicar uma entidade, nos seus negócios e na sua imagem junto dos consumidores, quando são alvo de campanhas negativas ou de mensagens fraudulentas.
São inúmeros os exemplos de casos em que, por incompetência dos seus gestores, para além das correntes de opinião negativas, por vezes geradas pelas novas plataformas de comunicação, levaram à falência certas empresas consideradas sólidas e pujantes do ponto de vista económico, mas que, dum momento para o outro, viram as suas expetativas de negócio afundar, devido a uma decisão mal ponderada, ou aos condicionalismos ideológicos dos seus dirigentes na tomada de decisões, levando a que tivessem de mudar de rumo e ir para outras bandas.
Vem isto a propósito do atual estado da saúde em Portugal e da teoria que alguns querem fazer passar, de que a culpa é do atual Governo que não sabe gerir o setor, quando, em boa verdade, o mesmo estava de tal modo “de rastos” antes da tomada de posse do mesmo, que quem visse a seguir teria sempre de empreender grandes reformas e corrigir inúmeros erros de gestão.
Não será certamente com um “passe de mágica” que se reverte uma política assente nos preconceitos ideológicos e nos condicionalismos políticos do anterior Governo de que os privados são os maus e de que apenas o Estado é que deve mandar na área da saúde, como aconteceu nos últimos tempos em Portugal.
Quando se virou completamente as costas a uma área responsável pelo tratamento de praticamente metade da população nacional, precisamente daqueles que constituem a base de sustentação do próprio estado, mas que, em última análise, são muito ricos para irem para os hospitais públicos, o que é que se esperava obter?
Quando se sabe que qualquer português doente crónico da classe média, com o receio de ter de ir para as urgências de um hospital público, prefere celebrar um seguro de saúde privado, que lhe garanta algum conforto numa hora de necessidade e que lhe evite estar naquelas filas medonhas com uma senha amarela na mão que apenas lhe garante, na melhor das hipóteses, ser atendido no dia seguinte, pergunto:
É justo estar a cobrar impostos a quem não beneficia dos cuidados básicos de saúde nos hospitais públicos, quando estes deveriam ser universais e gratuitos? É justo exigir sacrifícios a quem trabalhou e descontou valores, dos mais altos da União Europeia e depois ser-lhe vedada a assistência médica básica, numa hora de aperto? Julgo que não.
Pergunto ainda: o que é que se esperava obter quando em 2019, na vigência da anterior governação, foi assinada a famigerada Lei da Bases da Saúde, em que, das 28 páginas do documento original, apenas numa delas consta a expressão “setor privado”, em clara manobra de aproveitamento político duma maioria conjuntural e no condicionalismo ideológico do “nós ou eles”, como se “eles”, os privados, fossem uma espécie duvidosa, em quem não é bom confiar?
Lembro as expressões então utilizadas:
«Está em risco o Serviço Nacional de Saúde!»
«Temos de acabar com as PPP!»
«Fim dos hospitais privados!»
É fácil lembrar quando as ambulâncias faziam fila à porta do Hospital de Santa Maria em Lisboa, durante a pandemia do Covid, e a anterior responsável dizia timidamente que, nalguns casos, poderia ser procurado o apoio do “setor privado e cooperativo”, enquanto os profissionais chegavam a casa esgotados e exaustos, com os sinais no rosto dos elásticos das máscaras que tinham de usar para evitar o contágio, nunca esmorecendo nem virando a cara à luta!
O que é que se ganhou com isso?
E já não estou a falar das questões da “dedicação plena” ou do cumprimento estrito da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas, que isso iria abrir uma “caixa de pandora” de consequência imprevisíveis. Estou apenas a falar da exigência que foi feita recentemente da demissão da atual ministra da saúde, devido às dificuldades no acerto das escalas no tratamento pré-natal, apenas 4 meses após a sua tomada de posse!
Que diabo, toda a gente sabe que o período experimental de qualquer trabalhador de chefia, de acordo com o Código de Trabalho, é de, pelo menos, 8 meses!
Deixem a senhora trabalhar!
Por isso, considero que os danos reputacionais do anterior Governo na área da saúde, ainda vão levar algum tempo a sarar e só o esforço de todos e o fim das guerras estéreis e de consequências dúbias, poderão voltar a gerar a confiança que o setor necessita e a tranquilidade dos seus profissionais e das suas famílias, também elas prejudicadas pelo stress e pelo cansaço acumulados, durante os últimos 8 anos de governação socialista.
Mas isto vem a propósito dum certo “daltonismo político” de alguns, que querem fazer crer, que este Governo constitui uma espécie de toranja: laranja por fora e rosa por dentro, como um socialismo camuflado, algo sem rumo certo nem tendências definidas, vogando ao sabor das conveniências partidárias e das reivindicações dos setores, o que, pessoalmente, não acho.
Considero mesmo que isso constitui uma afronta às laranjas, fruta que muito aprecio – as toranjas, nem tanto.
Sem trazer para aqui a banda do Tiago Bettencourt, de que aliás gosto muito, gostaria de lembrar que, como qualquer aluno da cadeira de Educação Visual do 3.º ciclo do ensino básico deve saber, o laranja constitui a primeira cor secundária do espectro cromático, obtida da mistura direta de duas cores primárias básicas, o vermelho e o amarelo, enquanto o rosa é obtido a partir do vermelho e dum tom, o branco, que nem cor é!
Por isso, o cor-de-rosa, acaba por ser uma cor desmaiada do vermelho, algo que queria ser vermelho, mas não chega a ser. É muito tímido para carregar o tom e, como tem mais branco que vermelho, senão cai no vermelho, é uma espécie de coisa sem classificação.
Talvez como o socialismo, queria ser uma coisa que não é, por falta de coragem de o ser. Constitui uma coisa amorfa e entediante, que fica sempre bem, mas a que falta o substrato.
Como aquela cena do Regresso ao Futuro em que o vilão desafia o Marty McFly para uma corrida quando estão parados num semáforo durante o sinal vermelho, atirando a expressão: “Chicken?”. Só que ele, previdente, desiste quando cai o verde, fazendo marcha atrás na sua Toyota Hilux, vendo depois aparecer um Rolls-Royce no cruzamento seguinte, com quem chocaria inevitavelmente, se tivesse aceitado o desafio, levando-o à falência e provocando a queda da família. Lembram-se?
Aqui, deveríamos:
1.º – Não ter aceitado o desafio da corrida;
2.º – Procurar um sítio calmo para ir passear com a namorada, ou:
3.º – Aproveitar o todo-o-terreno para ir para o campo e sentir alguma adrenalina numa condução “fora de estrada”.
Por isso, descansem aqueles que queriam uma rotura com o anterior Governo, algo como uma revolução cultural à portuguesa, que este Governo não é nada disso. É um Governo democrático, eleito com uma base estreita, mas, ainda assim, democrático.
Sem ideologias que não sejam a do trabalho a dedicação e sem preconceitos que não sejam o de acabar com o cinzentismo e a estagnação a que este país chegou durante a anterior governação, procurando contribuir para a melhoria da nossa sociedade, corrigindo os erros cometidos e os males passados, tentando, sem demagogias ideológicas, obter a convergência de opiniões e fazendo valer o que nos une e não aquilo que nos separa (onde é que eu já ouvi isto?).