Se nos deslocarmos em muitos espaços urbanos e rurais e olharmos em redor, vai sendo difícil conseguir ver a paisagem sem a existência de todo o tipo de postes: para transporte de eletricidade de baixa e alta tenção, iluminação pública, transporte de fios de telecomunicações, eletrificação de casas, iluminação de ruas e praças, etc.

Estes postes foram colocados sucessivamente, à medida que avançou a eletrificação do país, as políticas de saneamento, a urbanização das vilas e cidades, mas também do meio rural. Muitos são em madeira tratada, outros em cimentos, outros em estruturas metálicas, de diferentes gerações e capacidades, à medida da evolução tecnológica, das necessidades das populações e das empresas operadoras destes meios. Há locais onde se colocou uma primeira linha para levar energia a uma casa, depois a vinte casas, ou a um lugar, e em seguida chegou a necessidade de colocação de linha de telefone, de seguida a iluminação pública com lâmpadas de incandescência … e agora em led. Cada vez que foi necessário alargar capacidades, instalaram-se novos postes e novas linhas, por vezes ao lado umas das outras, por vezes de um lado de uma estrada e também do outro lado, linhas que se cruzam, linhas que se tocam, linhas que se repetem, postes vergados pelos anos e pelo peso dos fios condutores, postes abandonados de linhas que já não funcionam ou porque se racionalizou o consumo. Mas não se retiraram estruturas excedentes. E ainda o cúmulo, de junto a muitos postes e casas se deixarem fios enrolados com várias voltas que se arrumam no topo, na receção de várias linhas.

Proponho que o leitor faça o exercício de verificar no seu bairro, nas ruas onde vive, nas deslocações para o trabalho em meio citadino ou no campo. Concluirá que os postes e fios se acotovelam às dezenas e centenas. Esta realidade impede o olhar de se espraiar e desfrutar da paisagem natural, dificulta a vida das aves e a nós, pessoas, deixa-nos com a sensação de desordem e prisão.

É verdade assim em todo o país, porque temos ainda muitos traços de subdesenvolvimento. Mas os nossos Parlamento e instituições governativas bem deviam refletir sobre este assunto e dar valor ao ordenamento da paisagem rural e urbana, da sua ocupação racional e natura. É urgente o entendimento sobre o que queremos do nosso mundo, da nossa vida em sociedade e de como a nossa intervenção deve preservar a paisagem e a qualidade de vida de todos os cidadãos, com a definição de uma estratégia para o uso de cabos elétricos subterrâneos, substituição e retirada de muitos postes e fios que desfeiam a cidade e ferem os horizontes.

Sei que em algumas universidades portuguesas, desde há muitos anos que estas matérias são estudadas nalgumas licenciaturas, que há departamentos do Estado para estudar, acautelar e ordenar o uso dos espaços de forma racional e equilibrada. Imagino que a União Europeia também já tenha políticas de ordenamento do território, mas no meu país sinto que a paisagem está uma desordem, gerida sem rumo, à mercê de interesses que não velam nem protegem o bem comum. E lanço um grito de alerta a quem de direito, para que, urgentemente e de modo sério, se debruce sobre este problema e tome medidas para que a paisagem seja cada vez mais de todos.

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