Antes de mais, é vital que fique bem claro que me sinto muito bem com o fluxo cerrado de escrutínio ao poder e interesses instalados na política, em Portugal, levada a cabo pela nossa imprensa. Contudo, o meu regalo é agridoce pois, cada denúncia certeira, cada alvo atingido, cada canela mordida que confirme suspeitas antigas, encerra, ao mesmo tempo, o pior que as pessoas da política nos tem doado nas últimas cinco décadas, apesar das propaladas consciências tranquilas dos seus actores, de todas as presunções de inocência a que legalmente nos teremos que sujeitar, de todas as prescrições que teremos que aceitar e de todas as tretas sobre ‘o que é da política que seja da política e o que é da justiça que seja da justiça. O que é certo é esta malta nos trata por gente que é mansa. Atentem a esta verdade: somos mansos. Não somos ignorantes, nem parvos, nem nada do que se pareça. Somos pura e simplesmente mansos. A imprensa vai-nos dando os casos, nós vamo-nos encharcando, shot after shot, sorry!, caso após caso e, quando damos conta, estamos com uma tal intoxicação que mais ninguém quer saber de nada, pois cada caso novo apaga um caso anterior, até que tudo se embrulhe, que ninguém saiba já do que é que se está a falar.  Até que a torneira se volte a abrir com mais uma mixórdia, algures num tempo e lugar, eventualmente inoportunos. E os casos vão sendo tantos que até nos esquecemos de quem é que nos dá estas notícias. Repito: esquecemo-nos de quem trabalha arduamente para nos pôr a par desta podridão toda. Sim, falo dos jornalistas. Basicamente, os jornalistas só são notícia em duas situações: quando morrem, que pode ser em serviço e de velhice, ou quando ganham prémios. Eles não são notícia; dão notícias. Não sei se é por corporativismo ou se por outro motivo qualquer, mas o que é certo é que os jornalistas nunca são notícia nos mesmos moldes em que é o mais comum dos cidadãos. Repito: sou um admirador do trabalho de todos os jornalistas que todos os dias nos fazem chegar aquilo que é a verdadeira Notícia. Mas, por outro lado, vê-los sem salpicos da bolha mediática que é hoje o mundo, começo a pensar que os nossos jornalistas são, na verdade, verdadeiros Impolutos.

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