As alterações associadas ao processo de envelhecimento, agravadas por diversas patologias, como as demências, levam a que alguns cidadãos seniores necessitem de cuidados específicos que nem sempre podem ser prestados no domicílio. Nestas situações, a decisão de integração em Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPI, habitualmente denominadas lares de idosos) constitui-se como a melhor opção para garantir o bem-estar destes cidadãos. Em Portugal, esta tipologia de resposta tem vindo a apresentar taxas de ocupação superiores a 90%, constituindo-se como alternativa para um número cada vez maior de pessoas.
Os cidadãos admitidos em ERPI’s apresentam frequentemente vulnerabilidades de complexidade variável, associadas a fatores físicos, emocionais/psicológicos ou contextuais que os tornam dependentes de terceiros para satisfazer as necessidades básicas ou algumas Actividades de Vida Diária (AVD).
A institucionalização tem um duplo impacto na vida dos cidadãos seniores: representa a perda de autonomia e traduz-se em marcadas alterações nas relações familiares e sociais. Gera sentimentos de desconfiança e medo de sofrer maus tratos, de comprometimento da integridade física e psicológica, de abandono e de perda da liberdade.
Pode, no entanto, contribuir para melhorias significativas ao nível das interações sociais, combate à solidão (promovidas pelas equipas prestadoras de cuidados) e no acesso a cuidados especializados, tais como a intervenção psicológica e a reabilitação cognitiva, com impacto na progressão de algumas doenças, como se observa nos quadros demenciais. Atendendo à condição de vulnerabilidade em razão da idade ou de fragilidades de saúde (física e psicológica), os cidadãos seniores necessitam de cuidados específicos favorecedores de um envelhecimento bem-sucedido, em que a preservação da autonomia, o efetivo exercício do Direito à autodeterminação e o respeito pela dignidade humana são fulcrais.
A implementação de dinâmicas de funcionamento aproximadas do ambiente familiar, favorecedoras da adaptação e promotoras da saúde psicológica das pessoas idosas, tais como as oportunidades de convívio social com pessoas do mesmo grupo etário, com crianças e jovens (proporcionando trocas intergeracionais), com familiares e amigos, dentro e fora da instituição, é uma das principais vertentes de atuação nestes contextos. Estas práticas permitem a manutenção ou a melhoria de dimensões relacionadas com as cognições, os comportamentos e as emoções, minimizando os sentimentos de solidão ou de abandono.
Apesar do impacto da pandemia na prestação de cuidados aos cidadãos seniores, a prossecução de objetivos relacionados com a manutenção e o desenvolvimento de relações afetivas significativas e de interações sociais ganha ainda maior significado e importância enquanto missão destas respostas sociais, não apenas pelas sua relevância para um envelhecimento saudável e bem-sucedido, mas também por se tratar de um direito fundamental, o direito à dignidade, que urge proteger.
Decorrido mais de um ano do início da pandemia e apesar das situações de verdadeira catástrofe vividas em muitas ERPI’s, devemos, hoje, graças às diferentes medidas implementadas entre as quais se destaca o processo de vacinação contra a Covid-19, retomar a normalidade e assegurar um efetivo envelhecimento com saúde e bem-estar.