Todos os Presidentes da República que cumpriram dez anos na sua função no seu segundo mandato tendem sempre a mostrar um pouco mais de si mesmos e da sua personalidade. É natural e não tem nada de mal. O facto de não precisarem de ganhar mais nenhuma eleição e de terem obrigatoriamente de sair do cargo contribui muito, a meu ver, para esta postura despreocupada, mas que por vezes choca o eleitorado e é propícia para a comunicação social aumentar audiências, seja em telejornais, programas de análise política ou de humor.
No entanto, hoje a comunicação, o humor e o debate político ganharam uma dimensão mais agressiva e o facto de termos um Presidente mais “informal” potencia este mediatismo excessivo dos órgãos de comunicação social.
Contudo, imaginem só o que fariam a Marcelo Rebelo de Sousa se imitasse os seus antecessores…
Se o Presidente resolvesse sentar-se na carapaça de uma tartaruga em calções de banho como fez Mário Soares no seu segundo mandato?
O Presidente teria não só a comunicação social a ridicularizar certa atitude como também teríamos os defensores dos animais em polvorosa.
Ou então, se por exemplo Marcelo Rebelo de Sousa resolvesse amuar e não sair do palácio de Belém como Cavaco Silva fez no seu segundo mandato? Iriam compará-lo certamente ao último rei de França fechado em Versalhes.
Ou se Marcelo por ventura resolvesse fazer um partido político de iniciativa presidencial, como Ramalho Eanes fez o seu PRD em pleno segundo mandato, indo a eleições, alcançando 18% e desfazendo o eleitorado do PS?
Nesse caso a comunicação social procederia ao suicídio mediático e político do Presidente, acusando-o de ser irresponsável e de querer implodir o sistema, querendo com a criação do seu próprio partido transformar a democracia em ditadura.
Por estas questões, que se passaram com anteriores Presidentes da República, acho que é preciso valorizar o atual Presidente Marcelo que não amua fechado no Palácio, que ainda não se pôs em cima de tartarugas de fato de banho e que não arrisca criar partidos de forma a ter os seus próprios Governos…
Afinal, é preciso dar um “desconto” ao atual Presidente porque todos os segundos mandatos dos presidentes são um pouco, como diz o Pedro Mafama, “oralilólé”.