Recuemos ao 25 de Novembro. Não de 1975 mas sim a outro 25 de Novembro, este sem lápide nem celebrações mas que condiciona toda a política presente. Falo de Novembro de 2015, esse mês em que o PS, parafraseando Pedro Nuno Santos, conquistou um maior “grau de autonomia estratégica”.

A 26 de Novembro de 2015 tomava posse o governo socialista de António Costa. Contava com o apoio do PCP e do BE. Duas semanas antes, a 10 de Novembro de 2015, o PS assinara os textos de Posição Conjunta com o PCP e com o BE.

Para trás ficavam aqueles dias penosos em que António Costa simulara negociar com a coligação vencedora das eleições e descobrira divergências insanáveis com Passos Coelho a propósito da educação de adultos. Daí para a frente nunca mais nada seria igual na política portuguesa (na educação de adultos não sei se alguma coisa mudou até porque o assunto desapareceu da agenda!)

O mapa político português mudou drasticamente nesse Novembro de 2015. Porquê? Talvez seja mais correcto perguntar: como?

A resposta mais pragmática e escorreita a esta pergunta foi dada por Pedro Nuno Santos. Quando instado a responder, na entrevista à CNN, sobre a política de alianças e compromissos que o PS sob a sua liderança pode vir a fazer, Pedro Nuno Santos deixou clara a sua simpatia pelo PCP e pelo BE. Mas não só. Deixou também claro que o PS não está no mesmo patamar do PSD graças ao “grau de autonomia estratégica que conquistou em 2015” .

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Repita-se três vezes: “grau de autonomia estratégica que conquistou em 2015”. Sim, em Novembro de 2015 o PS aumentou a amplitude do seu campo político negocial. Não menos importante, graças ao incremento que deu ao Chega conseguiu reduzir o “grau de autonomia estratégica” do PSD.

Os equilíbrios conseguidos após o 25 de Novembro de 1975 acabaram em Novembro de de 2015. Só o PSD não deu por isso. Ou deu mas resolveu actuar como se nada tivesse mudado.

Em 2018, o PSD olhou para a saída de André Ventura e consequente anúncio da constituição de um novo partido por parte deste seu ex-militante como se estivesse perante mais uma ruptura de um qualquer notável cuja notabilidade começa e acaba no partido. Não era nada disso como bem se tem visto.

Em 2021 a direcção do PSD decidiu não avançar com uma coligação pré-eleitoral com o CDS para as legislativas de 2022 e o resultado foi a maioria absoluta do PS. Em 2023, a grande preocupação do PSD tem sido o Chega e não o PS.

Por tudo isto há que perguntar: para quando o 25 de Novembro da direita? Ou seja, quando é que a direita se reorganiza? O 25 de Novembro de 1975 nunca foi uma vitória da direita mas sim e sobretudo um acerto de poder dentro da esquerda: a chamada esquerda moderada entendeu que chegara a hora de travar a legitimidade revolucionária que os radicais pretendiam impor. O 25 de Novembro de 1975 salvou a esquerda de si mesma. Isso explica que o 25 de Novembro de 1975 não seja um golpe no sentido de corte na linha do tempo ou de instituição de um novo regime mas sim o culminar de uma sequência de episódios em que a esquerda militar que grosseiramente se pode identificar com o PS assumiu a necessidade de passar a controlar a situação sob risco de ser ultrapassada pela sua esquerda ou pela direita que a norte do Tejo tinha condições para avançar.

Na verdade quando pergunto ‘para quando o 25 de Novembro da direita?’ é precisamente a esta capacidade de se enfrentar que aludo. A direita tem de ser capaz de deixar de ser aquilo que a esquerda diz que ela é. Ou que deve ser. Mas para isso tem de saber o que quer ser.