O avanço dos tempos, da tecnologia e a facilidade de acesso a todo o tipo de informação, seja a referida mais ou menos fidedigna, tem despoletado a imprevisibilidade do eleitorado, consubstanciando-se cada vez mais difícil e desafiante para o político, dirigente e estrutura partidária entender e perspetivar as intenções de voto.

A ideia de que somente por intermédio do entendimento se consegue satisfazer as necessidades eleitorais dos votantes atribui a este exercício de perceção particular importância. Contudo, no rescaldo das europeias, facilmente se afere que desta vez foi o povo quem trocou a volta aos partidos.

Portugal vive uma realidade política única, na qual todos os partidos emergem vitoriosos a cada sufrágio, independentemente dos resultados que deste provenham. É uma nuance distinta, caracterizada pela vitória generalizada, ainda que fundamentada em quedas menos abrutas do que o previsto ou no aumento do número de votos, mesmo que ausentes de qualquer materialidade.

Um dos efeitos das inconclusivas legislativas de 10 de março foi deixar os partidos em estado de alerta e no desespero de, com maior brevidade possível, manifestarem a respetiva força e coesão. Neste seguimento, achando-se conhecedores do eleitorado, muniram-se dos candidatos que melhor disfarçavam as conhecidas lacunas, esquecendo-se, porém, da componente de maior relevância para o caso: o distanciamento da europa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Portugal é oficialmente membro da União Europeia (outrora CEE) desde 1986, são quase 40 anos do país no contexto comunitário europeu, sem que se verifique claro para parte significativa dos portugueses o número de deputados a eleger e o trabalho que produzem em contexto de Parlamento Europeu.

Não bastante a distância física e a barreira linguística, existe também a representação de autoritarismo e austeridade transportadas pela Troika num passado negro e recente da nação, fazendo com que os portugueses não nutram particular interesse e afeto pelo que se discute lá para Bruxelas.

Em simultâneo, o ceticismo e a necessidade de ver para crer, são justificação para o facto de se atribuir especial preponderância aos problemas ou situações que conhecemos e observamos, em detrimentos de questões de superior índole.

A ausência de temáticas que se consigam sintetizar ao quotidiano do povo português e a falta de habilidade dos reputados candidatos para o fazer, são causas bastantes para que não se verifique a adesão às urnas de outras eleições.

No contexto autárquico e até legislativo, a afluência aumenta, procedente da proximidade aos candidatos, da cegueira partidária de quem pretende testemunhar uma derrota dos opositores, ou da esperança em imediatas diligências para a solução de preocupantes e singulares pendências.

Nesta senda europeia, apesar da diminuição das taxas de abstenção, a comparência de 37,52% dos inscritos (com referência ao território continental) torna evidente que o despejar de figuras mediáticas, como fizeram praticamente todos os partidos, não é aliciante suficiente para encaminhar o povo às urnas.

Devem, a futuro, os responsáveis políticos e as estruturas partidárias tentar perceber minimamente o povo e, neste pressuposto, explicar a importância do nosso voto para a eleição dos deputados portugueses ao Parlamento Europeu, começando por enquadrar os portugueses e o seu quotidiano (respetivas implicâncias e consequências) no quadro europeu, apresentando desta forma os melhores candidatos para a defesa e promoção das nossas causa e interesses.