Cinco anos na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa ensinaram-me muita coisa. A primeira, talvez muitos já soubessem, é que é um mito pensar que dentro de uma Faculdade de Psicologia existiria muita sanidade mental, muita sensibilidade e bom senso, mas, pasmemos, essas qualidades têm pouco lugar naquele espaço. É um lugar como todos os outros, mas torna-se ainda mais chocante por ser uma instituição onde se esperava que habitassem indivíduos com saúde mental positiva e, quando digo isto, refiro-me principalmente a indivíduos que sabem conviver em sociedade, que sabem amar o outro, que sabem criar relações.

A academia e o mundo académico servem para mim como uma representação, ainda que mínima, do desastre global em que vai a sociedade. A academia é uma amostra da podridão que se passa no resto de muitas instituições públicas do nosso país. Peca pelo excesso de impunidade, tudo se pode fazer, tudo se pode dizer, principalmente aos alunos. Não há limites para a forma como os alunos são tratados, diminuídos, desprezados. Não há qualquer consequência directa para quem, durante anos e anos a fio, tente desfazer autoestimas e sonhos. Eu sei que é espantoso (pelo menos para mim é), que, no ano de 2024, no meio académico, continue a haver quem se orgulhe de contribuir para que alunos falhem e desistam de mestrados e doutoramentos, porque o peso de lidar com um ser humano que nos quer tentar destruir em prol do afago do seu próprio ego é demasiado grande. E isto não é apenas entre alunos e professores, os alunos conseguem cheirar à distância o ódio cerrado que existe entre professores.

O que é o meio académico público universitário português senão uma mínima representação da guerrilha de poderes? É uma espécie de Kamala vs Trump na escala dos pobrezinhos e dos ainda mais medíocres. É uma espécie de empresa pública onde alguns mandam o que não podem mandar nas suas próprias vidas e o que não conseguem resolver nos seus próprios egos. E quem os atura? Ora, nós, pois claro. Nós, e incluo alunos, professores e a sociedade, no geral.

Não vou entrar em pormenores, mas muitos saberão do que falo, já o terão até sentido na pele. Já terão deparado com pessoas por esse mundo fora que agem sobre o outro com maldade, escárnio e abuso de poder. No fundo, fazem uso da mediocridade que os define, pensando que, por uma hora ou duas, são donos do mundo e donos do Outro. Mas não são. Os Homens, enquanto espécie, (mas deveria ser até com h pequeno) que usam o poder circunstancial para tentar pisar os outros são pequenos e deixam a sua pequenez à vista. Ter uma relação de poder é algo que pede muita sensatez, muito respeito pelo outro e capacidade de perceber que o poder não é eterno. Mas poucos são aqueles que conseguem tornar uma relação hierárquica num exercício de humildade e de troca de sabedoria. Muitos tentam torná-lo numa batalha, que querem ganhar à custa de tudo e de todos.

Terminei o meu percurso académico nesta instituição e como não poderia deixar de ser, não me calo perante o desgaste e a vergonha que se passa dentro das instituições públicas de ensino. Não faço tenção de voltar à academia, embora lá tenha deixado pessoas que muito admiro, porque há que dar mérito aos Professores (esses sim, com letra grande) que usam o poder que lhes foi dado para se tornarem eternos e imortais na memória dos alunos, porque utilizam a sua sabedoria para o Bem e atingiram a maturidade que lhes permite serem humildes e orgulhosos de si mesmos com um equilíbrio sensato. Aos outros, os que tentam alimentar o ego a tentar destruir o dos outros, lamento informar que nem sempre são bem-sucedidos, e talvez o estudo contínuo da psicologia ainda lhes possa ensinar qualquer coisa.

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