Os portugueses receberam com surpresa a notícia de que a Roménia, país de onde até recentemente vieram milhares de emigrantes, nos ultrapassará em PIB per capita em 2024, segundo as previsões de Outono da Comissão Europeia. É importante também notar que o PIB romeno será 137% superior ao registado no ano 2000, sendo que, no caso português, o aumento será de apenas 21%.

Os mais optimistas relativizam estes dados, preferindo apontar o facto de que em diversos índices Portugal apresenta melhores resultados que a Roménia, como no caso da esperança média de vida, mortalidade infantil ou risco de pobreza. Se isto é verdade, ou seja, se Portugal ainda está melhor que a Roménia nestas áreas, a verdade é que temos agravado a nossa situação, exactamente com um aumento significativo no risco de pobreza. Segundo um relatório da Pordata o número de portugueses em situação de pobreza aumentou pela primeira vez em 2020 desde 2014, sendo que somos o segundo país com mais pessoas a viver com más condições materiais e o quinto com mais pessoas incapazes de aquecer a própria habitação. Em relação à mortalidade infantil, o valor é o maior desde 2018, e são os próprios médicos de saúde pública a pedirem que se estude a situação e a indicarem a situação económica e as dificuldades do SNS, em especial dos serviços de urgência obstétrica, como possíveis respostas para esta situação.

Esta incapacidade crónica em crescermos do ponto de vista económico, esta estagnação, esta limitação na criação de riqueza levarão, inevitavelmente, a um agravamento destes índices de desenvolvimento e bem-estar em que ainda levamos vantagem sobre a Roménia, mas sejamos realistas, será uma questão de tempo até sermos ultrapassados também nestas áreas.

Nunca será demais referir, o PS governou 20 dos últimos 27 anos, prometeu sucessivamente melhores salários, menos desigualdade social e melhores serviços públicos, enfim uma melhor vida para todos, mas o que deixará de herança é um país tão pobre como os mais pobres, que será brevemente ultrapassado por aquele que há poucos anos era o mais pobre da União Europeia. Somos tão pobres que não conseguimos aquecer a nossa casa no Inverno, somos tão pobres que milhares de idosos têm que escolher entre comer, pagar a renda da casa ou comprar medicamentos, somos tão pobres que não conseguimos pagar decentemente a quem tem um idoso acamado ou um filho deficiente a seu cargo. Enfim, somos pobres.

A pobreza limita as nossas escolhas, reduz a nossa qualidade de vida, agrava a nossa saúde, torna-nos escravos. Os pobres não têm liberdade, e é por isso que se torna cada vez mais importante escolhermos políticos que apontem a criação de riqueza como desígnio essencial do país, sendo fundamental também que essa riqueza criada chegue a todos, contribuindo dessa forma para o elevador social, permitindo tirar cada vez mais pessoas da pobreza.

Portugal será, no fim deste campeonato do mundo, o país mais representado politicamente no Qatar. Os políticos tenderão a colar-se, de forma despudorada, a um sucesso para que em nada contribuíram, mas serão incapazes de assumir as suas responsabilidades no estado em que deixarão o país aos mais novos. Caberá aos portugueses pedir-lhes responsabilidades, quando a conta vier.

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