De tudo o que ouvi dos debates, há duas frases que não esqueço, a primeira é de Luís Montenegro. Já o debate com André Ventura ia longo e se discutiam as pensões quando Montenegro solta a seguinte frase: “tenho de me rir de si” e não satisfeito, repete-a três vezes.

Com esta frase Montenegro mostrou o porquê do resultado que obteve nestas eleições, como é que um político experimentado, antigo líder parlamentar do PSD no tempo da troika não percebe à primeira o erro que cometeu e ainda a repete mais duas vezes. Como é óbvio, os eleitores que já estavam convencidos a votar Chega não gostaram, mas aqueles que ainda podiam estar indecisos receberam aquela frase como uma ofensa. Em primeiro lugar ninguém gosta de “bullies”, de pessoas que se riem com desdém (foi isso que LM fez) dos outros, em segundo lugar LM revelou que não percebeu nada do que se está a passar em Portugal nem de quem o Chega representa, durante demasiados anos a pseudo-elite que nos tem governado afastou as pessoas comuns dos eleitos, cada eleição que passa o fosso que nos separa aumenta, ou seja, hoje não são só as pessoas da Guarda, de Faro ou de S. Miguel que se sentem sem voz, hoje essa sensação de afastamento do poder sente-se cada vez mais perto de Lisboa, sobretudo na sua periferia a norte e sul do Tejo, resultado de uma governação e de protagonistas políticos que perderam a noção de como vive o povo que governam. Montenegro referiu em campanha que foi a todos os concelhos do país, mas não chega ir Luís, é preciso ouvir, e isso LM não fez.

A outra frase que marcou os debates veio de Rui Rocha, exactamente no debate com LM: “a solução do país está nesta mesa”. A esta distância percebe-se bem como estas duas forças políticas e estes dois personagens vivem alheados da realidade e do país real; a IL colou-se ao PSD como uma lapa na esperança que desta forma, sem grande esforço, pudesse alcançar o poder, no entanto o pior erro foi do seu “compagnon de route” Luís Montenegro.

Montenegro tinha uma estratégia, em vez de ouvir o que lhe diziam no café resolveu ouvir o que lhe diziam nos salões em Lisboa, em vez de ser equidistante em relação aos partidos à sua direita, IL e Chega, resolveu escolher um “campeão” e sabemos agora (e não foi por falta de aviso https://observador.pt/opiniao/uma-armadilha-em-forma-de-linha/?cache_bust=1710439674473) correu mal. PSD e IL acharam que podiam chantagear o eleitorado, acharam que colocando de lado de uma solução de governo o Chega, os eleitores tenderiam a votar útil, num ou noutro, obviamente não foi nada disso que aconteceu.

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LM escolheu o parceiro mais fraco e frágil, convenceu-se que seria um aliado mais dócil e maleável que o Chega, que tem uma liderança muito mais forte. O problema é que o eleitorado não se deixou chantagear, votou em liberdade e votou Chega e não IL que até perdeu um deputado em Lisboa (em boa verdade a responsabilidade nem é tanto de Bernardo Blanco, que convenhamos 99% das pessoas não sabe quem é, mas sim de Cotrim Figueiredo que fez uma passagem de poder soviética, e de Rocha que humilhou Carla Castro em público).

Montenegro só tem dois caminhos, volta atrás assume o erro e começa a negociar com André ventura ou insiste no erro e será uma nota de rodapé na História da nossa democracia quando podia de facto ficar na História.

Está nas tuas mãos, Luís.