Pedro Passos Coelho apresentou um livro. Repito, o antigo primeiro-ministro disse coisas acerca de um livro e o país politico-mediático parou. Creio que, hoje, Passos Coelho será a única personalidade política capaz de tamanho sobressalto, o país pára para o ouvir e só isso prova que mantém intacto o capital político que conquistou.

Este texto não é acerca do livro, que não li, nem sobre a intervenção de Passos, que não ouvi, este texto é sobre as reacções que a apresentação do livro suscitou, da esquerda à direita passando por comentadores.

Se tivesse de apostar, diria que a esmagadora maioria das pessoas que comentaram as palavras de PPC acerca do livro não fizeram duas coisas: nem leram o livro nem ouviram Passos Coelho. O que diz muito do tempo em que vivemos, as opiniões não se baseiam numa reflexão mais ou menos profunda acerca do que se leu ou ouviu, mas sim de uma percepção sobre qual o lado em que é mais confortável estar, ou seja, qual o lado “certo”.

A esquerda e a “direita” convergiram num ponto, Passos Coelho sucumbiu aos cantos de sereia e é hoje um perigoso extremista. Podia estar aqui a elencar todas as reacções à apresentação, mas vou cingir-me a três que me parecem sintomáticas, até porque vêm do partido de Passos Coelho, o PSD.  Coelho Lima, antigo deputado, considerou as opiniões expressas no livro como “moralistas, paternalistas e desumanas”; Moedas referiu que “há partidos que são os moderados do sistema, e esses partidos devem dialogar porque os extremos são perigosos”; por seu lado, Aguiar Branco, antigo ministro de PPC, elogiou a troca de correspondência entre Montenegro e Pedro Nuno Santos insistindo na ideia de “diálogo” entre PS e PSD.

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Nos dias que ocorrem a palavra “moderado” ganhou toda uma nova dimensão. Ao constante ataque da esquerda às bases fundacionais do nosso modelo de vida em sociedade – seja à nossa História, tradições ou noção de família – a “direita” responde com um silêncio confrangedor, cúmplice e cobarde. A “direita” está hoje refém do discurso da esquerda, que ao se radicalizar tratou de estigmatizar todos os que dela discordam apelidando-os de “radicais, intolerantes ou fascistas”. E a “direita” – seja por medo, preguiça ou cobardia – é incapaz de travar esta batalha, refugiando-se numa insípida “moderação”, nem percebendo que ao não condenar a esquerda a ela se junta nesta onda “progressista e de causas” que mais não é que uma forma intolerante de ver a vida e a liberdade dos outros. A “direita” não é moderada, é fraca.

Há 30 anos seria impensável que travestis pudessem falar de sexo a crianças dentro de escolas sem o consentimento dos pais, seria inconcebível um país que não controlasse as suas fronteiras; e grupos que sistematicamente  agridem pessoas e atentam contra propriedade privada, seja em nome do clima ou outra coisa qualquer, seriam considerados terroristas. A pergunta que temos de nos fazer é a seguinte: quando é que isto mudou? Quando é que a esquerda conseguiu dominar o espaço público-mediático, impondo as suas regras e modelo de sociedade? Quando é que nos deixámos dominar pelo medo, aceitando acriticamente tudo o que a esquerda nos quer impingir?

A verdade é que hoje “moderação” é sinónimo de cobardia, hoje os “moderados” são aqueles que desistiram de lutar contra uma esquerda que falhou no plano económico e que se quer salvar no plano social, inventando novas “causas” cada vez mais “modernas”, mas também cada vez mais distantes dos problemas das pessoas comuns.

Os “moderados” são incapazes de denunciar a tentativa de engenharia social que a esquerda quer promover, estão reféns de uma narrativa inquisitória e intimidante, estão acantonados sem capacidade de reacção. Os tempos que vivemos não requerem moderação, pedem antes coragem para preservarmos aquilo que temos de mais precioso, a nossa liberdade de perseguirmos o nosso projecto de vida, seja ele qual for, e de sermos felizes da forma que escolhemos ser.

Post scriptum: A “direita” é o PSD, CDS e IL. A direita é, obviamente, o Chega.