É sabido que a política é um elemento essencial na vida de qualquer nação democrática, pois é através dela que são tomadas as decisões fundamentais, elaboradas as leis e representados os interesses dos cidadãos. Em Portugal, como em muitos outros países, surgem preocupações persistentes relacionadas com a presença de políticos de carreira, a dependência que estes têm das avenças e a consequência da venda da liberdade, no contexto político.

Discordo em toda a sua plenitude da ideia de que pode e deve haver políticos de carreira, pois estes são indivíduos que dedicaram grande parte das suas vidas à política e que muitas vezes ocupam cargos públicos por longos períodos. Essa realidade é evidenciada por políticos que passam de um cargo para outro ao longo das suas carreiras. Esta longevidade é vista por alguns como uma vantagem em termos de experiência política, mas, quanto a mim, levanta questões sobre a renovação e representatividade. Para além disso, a presença de políticos de carreira gera, não poucas vezes, uma sensação de desconexão entre os governantes e os governados, com implicações para a vitalidade da democracia. As políticas desfasadas da realidade são uma constante.

Outro problema que é comum a estes políticos é a dependência que estes mantêm das avenças. Esta é uma prática que envolve a nomeação de indivíduos para cargos públicos com base em alianças políticas e lealdades partidárias, muitas vezes à custa da competência. Em Portugal, isso pode resultar na nomeação de pessoas que não são necessariamente as mais qualificadas para funções importantes. Este fenómeno mina a eficácia do governo e contribui para a perceção de corrupção e nepotismo.

Para além disso, ainda temos um outro problema estrutural que é a forma como geralmente são constituídas as listas de candidatos dos partidos para as diversas eleições. São geralmente constituídas tendo em conta as conexões pessoais em detrimento da capacidade e competência do indivíduo para desempenhar o cargo. Não é por acaso que a perceção social é a de que a maioria dos políticos é pouco competente. Isto deve-se sobretudo ao facto de, na constituição dessas listas que os tornam elegíveis para os cargos, haver pouco escrutínio da competência. Seria interessante que, agora que estamos novamente na altura de constituir as listas, houvesse coragem para abolir esses procedimentos, há muito enraizados, e procurar, para cada uma das áreas políticas, os militantes, ou não, que sejam, de facto, um valor acrescentado ao partido e sobretudo ao país.

A venda da liberdade, isto é, a corrupção, é um dos problemas mais graves associados à política em Portugal. A corrupção prejudica a confiança dos cidadãos nas instituições democráticas e pode resultar em decisões políticas que priorizam interesses particulares em detrimento do bem comum. Quantos casos não conhecemos de ajustes diretos no mínimo suspeitos? O que seria das empresas de alguns políticos, muitas feitas de véspera, como esta empresa do Lítio, que foi criada 3 dias antes de ganhar a concessão, se não fossem os ajustes diretos dos amigos ligados à política? Uma espécie de “uma mão lava a outra”. Revezam-se no poder e sustentam-se uns aos outros numa cúpula quase impenetrável, muitas vezes à margem da alçada da justiça. As listas de candidatos, salvo honrosas exceções, são o princípio desta promiscuidade. Servindo muitas vezes para pagar favores uns aos outros. Há que inverter este modus operandi partidário. Haverá coragem?

Quanto a mim, para garantir a vitalidade da democracia e a representação eficaz dos interesses dos cidadãos em Portugal, é essencial abordar essas preocupações e promover uma cultura política mais transparente, ética e responsável. Ao fazê-lo, Portugal poderá fortalecer as suas instituições democráticas e garantir um futuro mais promissor para a sociedade. Não basta mostrar preocupação com o crescimento dos ditos partidos populistas/extremistas, se há uma enorme incapacidade de alterar estes comportamentos político-partidários que tanto degradam as instituições e desacreditam o sistema.

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