Descobrimentos, Portugal deu mais mundo ao mundo. Hoje, perante crises que ameaçam tornar-se globais, suspeitas de corrupção e desconfiança nas instituições, Portugal deve voltar a fazê-lo, propondo nova bússola para orientar a democracia rumo a uma governança ética e eficaz. Isto numa conjuntura nacional e internacional que mostra a urgência de se arrepiar caminho.

A demissão do Primeiro-Ministro e a dissolução do Parlamento significam mais do que instabilidade política, sendo, de facto, manifestações de um sistema político desfasado da realidade contemporânea. Navegar com modelos de governança desajustados na impetuosa corrente de mudança que se faz sentir levará as democracias ao naufrágio. Na ausência de uma verdadeira reforma política, assistimos ao esbracejar de sistemas democráticos a afogarem-se no oceano da modernidade, enquanto alguns acenam freneticamente junto à costa do populismo.

É óbvia a falta de preparação do atual sistema; tomemos como exemplo o Conselho de Estado: um órgão consultivo do Presidente da República cuja composição etária reflete gerações desfasadas do pulsar das novas tecnologias digitais. Estará este Conselho preparado para identificar soluções inovadoras para o problema da corrupção e o delapidar da confiança nas instituições? Talvez não esteja. Mas o problema atual da política em geral não é apenas a falta de preparação, é também a sua falta de transparência, justificando-se plenamente o sentimento de desconfiança que aflige os portugueses e não só.

É imperativa a reforma dos órgãos políticos, que devem incluir vozes familiarizadas com tecnologias decisivas para o futuro da humanidade. Não é só uma questão de idades, mas de perspetivas e conhecimentos. É essencial descortinar novas soluções políticas e administrativas. O mundo está em rápida evolução, e os métodos tradicionais de governança são incapazes de lidar com o flagelo da corrupção e o alastrar da desconfiança institucional. A democracia não pode esperar e tem de se modernizar antes que os seus inimigos, externos e internos, utilizem as novas tecnologias para levar a cabo a desinformação e inviabilizar escutas telefónicas…

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Portugal deve liderar uma nova era de descobertas – desta vez não em mares desconhecidos, mas desbravando as vastas e inexploradas fronteiras do mundo digital. Trata-se de aproveitar as potencialidades de sistemas computacionais avançados e promover uma governança também algorítmica, viabilizada pela Inteligência Artificial (IA) e a tecnologia Blockchain. Esta abordagem representa uma inovação na administração pública, moldando novos territórios de governança e interação social.

A IA desempenha um papel crucial ao analisar grandes volumes de dados rapidamente, possibilitando decisões mais expeditas e informadas, para agilizar respostas a questões complexas da governação. Por outro lado, a Blockchain e outras tecnologias criptográficas estabelecem sistemas de confiança automatizados e distribuídos, especialmente através dos contratos autoexecutáveis. Estes novos instrumentos informáticos são protocolos que podem implementar automaticamente as estipulações democráticas e os acordos pré-estabelecidos, garantindo, assim, transações rápidas e confiáveis. São tecnologias cada vez mais robustas que representam a chave de uma administração pública eficaz e imune à corrupção no século XXI.

Perante a imperiosa necessidade de uma nova abordagem estratégica, o paralelismo com os Descobrimentos é inspirador; tal como os nossos antepassados, devemos ter a coragem de explorar e expandir horizontes. A IA e a Blockchain – para além de óbvias reformas como a do sistema eleitoral – são os astrolábios e quadrantes da era digital que podem orientar a nave da democracia no século XXI.

É hora de Portugal descortinar uma rota de esperança que leve o mundo livre a bom porto. Se a democracia não arrepiar caminho perante uma corrente cada vez mais perigosa, será apanhada no redemoinho do populismo. Por isso, devemos içar as velas tecnológicas na senda de uma governança ética e eficaz que permita às novas gerações singrar rumo ao futuro.