Cumpre-me, em primeiro lugar, na Sessão inaugural do Ano Comemorativo dos 300 Anos da Fundação da Academia Portuguesa da História (em 8-1-2020), agradecer reconhecidamente a alegria que esta Instituição me deu ao elevar-me à categoria de Académica de Mérito, no Olimpo Superior. Espero continuar a trabalhar para honrar esta enorme distinção.
O meu actual principal interesse de investigação vai no sentido de concretizar o meu projecto do Museu da Interculturalidade/“Portugal Global”, o qual obteve a honrosa colaboração “com o maior entusiasmo” desta Academia, conforme as generosas palavras da Senhora Presidente, Professora Doutora Manuela Mendonça, quando me transmitiu a decisão do Conselho Académico, por ofício de 27 de Março de 2018.
Seja-me permitido recordar que remonta ao século XIX a ideia de um museu dedicado aos Descobrimentos Portugueses, e que eu acalento há mais de 40 anos o projecto de um museu a que chamo “Portugal Global”, focado não só na Expansão e nos Descobrimentos, mas com uma abrangência maior quanto a épocas, áreas geográficas e conteúdos multidisciplinares, pioneiro a nível mundial quanto à concepção, ao objectivo social, à pacificadora museologia/ patrimologia intercultural, que tem como objectivo a Paz.
Há dois anos regressei a essa temática, que apresentei num congresso histórico internacional e depois em seis textos; a fim de estes terem maior impacto, publiquei-os on-line (vide jornal “Observador”, entre 24 de Março e 18 de Julho de 2018, num total de cerca de 50 páginas).
Este museu, a que em 2018 dei o incontestado e aclamado nome de “Portugal Global”, obteve inúmeros e rápidos apoios, vindos inclusivamente dos países e comunidades de língua portuguesa espalhados pelo mundo.
Note-se que quando em 2018 regressei a esta minha tão antiga temática, eu não sabia que desde 2015 havia uma grande polémica à volta de uma iniciativa municipal para se criar um Museu das Descobertas, polémica com a qual nada tenho a ver.
Agora, para procurar melhor ultrapassar esse problema e dado que o Conselho Internacional dos Museus (ICOM), a que pertenço, está aberto, a nível internacional, a uma nova definição de museu, sugiro criar-se on-line, com vanguardistas tecnologias, um pioneiro, pedagógico, inclusivo, rigoroso, pacificador museu “Portugal Global”, o qual também estabeleça roteiros pelo mundo fora, de forma a que esses conteúdos possam democraticamente ser apreciados, porventura em simultâneo, ao redor da Terra.
É neste projecto on-line e abrangente do Museu Portugal Global que agora estou sobremaneira empenhada.
Em importante complemento ao museu, mas dispensável, pretendo ver se será possível prosseguir a classificação pela UNESCO como Património Mundial do “Portugal Global”, a qual sugeri em 2018 e obteve vários apoios. Já houve uma primeira reunião nesse sentido.
Uma outra minha linha de investigação procura cativar sobretudo a Geração “Z”, nascida entre 1997 e 2012, os chamados “nativos digitais”, que são considerados pelos especialistas como pouco conhecedores da História, muitos não fazendo sequer ideia de como era o mundo antes do 11 de Setembro de 2001. (Note-se que a Geração “Z” é por mim também acarinhada no Museu “Portugal Global”).
Tem esta geração também pouca noção dos laços familiares para além dos pais, avós, tios e primos direitos, apesar de se ter iniciado na década de 1990 o projecto para determinar as bases do ADN humano, o maior projecto colaborativo mundial.
Tento aqui demonstrar, sobretudo aos meus mais próximos “nativos digitais”, aos meus netos, que a História é importante para todos, que tivemos milhares de antepassados, a maior parte evidentemente anónimos, que é estruturante para a nossa identidade tentar saber os laços familiares, os seus contextos históricos e roteiros existenciais.
Estas pesquisas, que já abrangeram sobretudo sete centúrias, identificaram, por exemplo, combatentes do Cerco de Lisboa, da Batalha de Aljubarrota (Ala dos Namorados), das setecentistas Novas Conquistas de Goa, das oitocentistas Lutas Liberais, o navegador Fernão de Magalhães, etc, mas também parentes que ao longo dos séculos, e devido ao Portugal Global, mas não só, viveram, ou vivem, espalhados pelo mundo.
Como eu quis conhecer a épica viagem dos meus genes na primeira pesquisa científica do género feita em Lisboa, em 2019, a qual foi realizada pela Universidade do Porto, descobri que a minha linhagem ancestral mais próxima surgiu há 22.500 anos no continente asiático e expandiu-se há cerca de 7.000 anos, designadamente para as Filipinas.
Agora que se comemora o V Centenário da Circum-Navegação de Fernão de Magalhães, os meus netos ficaram fascinados com o facto de os seus antepassados serem provenientes das Filipinas, mais de 6 mil anos antes de lá ter chegado, e falecido, o remoto tio Fernão …
Todos aqui bem sabemos que a História é aliciante. Espero conseguir demonstrar tal aos muitos que assim não pensam, com o Museu on-line e com a classificação como Património Mundial do “Portugal Global”, ou mais modestamente com o livro dedicado aos meus netos.
Intervenção proferida na Sessão inaugural do Ano Comemorativo dos 300 Anos da Fundação da Academia Portuguesa da História