O décimo-sexto presidente norte-americano, Abraham Lincoln, escreveu que não há prosperidade sem poupança, atribuindo ao ato de aglomeração de rendimentos uma importância basilar naquilo que são as economias modernas. Lincoln estava convencido de que a poupança seria a receita que garantiria aos americanos uma maior estabilidade, num sistema empreendedor de especulação moderna e capitalismo muito jovem onde, mais do que em qualquer outro sistema, as crises – tal como as guerras – são cíclicas e até desejadas.
A verdade é que ainda hoje, volvidos mais de 150 anos do assassinato de Lincoln no teatro Ford, a poupança continua a ser uma das principais ferramentas utilizadas pelos portugueses em resposta às sucessivas crises que o país enfrenta.
Durante o contexto pré-pandémico dos anos de 2018 e 2019, a taxa de poupança das famílias portuguesas atingiu mínimos históricos inferiores a 7%, valor que apenas encontra paralelo no cenário prévio à crise financeira de 2008, onde rondava os 7,3 pontos percentuais. Confrontados com cenários macroeconómicos adversos, a taxa de poupança dos portugueses dispara, de mínimos para máximos históricos. Com a crise do subprime e das dívidas bancárias de 2008, as famílias portuguesas passaram de taxas de poupança de 7,3% para 11,87%. O mesmo aconteceu entre 2019 e 2020, quando os portugueses, confrontados com uma crise sanitária – e consequentemente económica – viram a sua taxa de poupança atingir um pico de 13,3 pontos percentuais, um máximo histórico sem paralelo na economia portuguesa do XXI.
A verdade é que as taxas de poupança das famílias portuguesas tendem a aumentar quando os seus rendimentos tendem a diminuir, o que limita de sobremaneira a liquidez ao dispor dos agentes económicos individuais e coletivos.
Naturalmente, esta retenção de fundos e valores comerciais por parte das empresas e particulares tem consequências diretas nos mercados, uma vez que existe uma evidente proporcionalidade inversa entre as taxas de poupança e o consumo. Quanto maior a taxa de poupança, menores são os fluxos financeiros na economia e, consequentemente, menor é o consumo. Desde a introdução do euro como moeda única na União Europeia, o consumo no país tem vindo a aumentar exponencialmente. Com duas exceções: os momentos em que as taxas de poupança mais cresceram. A resposta à crise de 2008, onde o consumo teve uma contração de 4,87%, e na sequência da pandemia, onde teve um decréscimo de 11,72%. O défice de consumo está indelevelmente associado a um constrangimento económico por parte das indústrias extratoras e transformadoras, culminando no encerramento de unidades fabris, despedimentos coletivos e contração de despesa em geral, que se repercute por todos os sectores da economia, contribuindo para um efeito de bola de neve onde os ativos financeiros são cada vez menos correntes, diminuindo a sua circulação, o que é prejudicial a um sistema económico que se pretende altamente dinâmico e concorrido.
Em convergência com as tendências de consumo encontra-se o Produto Interno Bruto (PIB) do país, que tem vindo a aumentar desde a implementação da moeda única, tendo apenas diminuído nos anos seguintes às crises de 2008 e 2019, momentos em que as taxas de poupança foram historicamente elevadas e o consumo se retraiu.
Importa compreender que a realidade vivida atualmente, numa economia extremamente dinâmica, volátil e digitalizada, não é a mesma que se vivia no século XIX e que a expressão “dinheiro gera dinheiro” só é verificável se este não se encontrar debaixo do colchão. Para isso são necessárias políticas captadoras de investimento externo, impulsionadoras de investimento público e privado que, acautelando sempre as poupanças das famílias, permita uma valência efetiva no investimento de capital num sistema financeiro estável e estruturado, incentivando a criação de postos de trabalho e uma melhor distribuição da riqueza entre os diversos agentes económicos, coletivos e individuais, que permita às famílias um aumento real dos seus rendimentos, do consumo e consequentemente do PIB nacional.