Enquanto os alunos passam pelo sistema de ensino tudo é altamente estruturado, previsível e sequencial. No entanto, quando os alunos acabam o ensino secundário ou o superior, de repente é-lhes pedido que sejam capazes de tomar decisões, serem criativos, capazes de trabalhar em equipa, etc. A atitude esperada em adulto, é tipicamente o contrário da que vivem no dia a dia no sistema de ensino. E se as escolas, com recursos tão limitados, pudessem potenciar o crescimento dos seus alunos enquanto eles contribuem para o funcionamento da escola? As nossas escolas não podem ser prisões, como me descreveram vários jovens.

Seria benéfico os alunos poderem ter mais protagonismo e responsabilidade na vida das suas escolas. No contacto que fui tendo com os níveis mais avançados do sistema de ensino, tenho constatado a grande dificuldade dos alunos em decidir e sentir legitimidade para contribuir para um espaço de que fazem parte e onde passam a maior parte do seu dia, a escola. Quando lançamos desafios aos alunos eles tipicamente hesitam, “a minha ideia pode mesmo avançar?”, “mas é suposto eu fazer alguma coisa na minha escola?”. De facto, para além de ir às aulas e cumprir os básicos, não é esperado muito deles.

Para os jovens poderem desenvolver a sua autonomia têm de poder ter protagonismo na sua educação, de tomar decisões e poder aprender com os resultados, sucesso ou não. E se os alunos também fossem responsáveis pela sua escola? E se os alunos servissem os seus colegas na cantina uma vez por mês? E se pintassem a escola ou desenhassem um novo espaço para tornar a escola mais ao seu gosto? Estes são processos aprendizagem que fomentam o desenvolvimento de autonomia e de cidadãos maduros e realistas. Os alunos aprendem a gerir este tipo de processos, a pedir autorização e fundamentar o pedido, mas depois são eles que fazem acontecer e que colhem os louros, exatamente como será na vida adulta. As escolas têm aqui uma fonte de inovação e mobilização para a resolução de desafios da comunidade escolar.

Assisti em Portimão a algumas iniciativas de alunos. Uma pretendia combater o estigma dos cursos profissionais na escola. Para tal desenvolveram conteúdos a explicar as vantagens dos cursos profissionais, e depois realizaram workshops para passar a mensagem aos colegas do 9º ano para que pudessem fazer uma escolha mais informada. Outro grupo procurou uma série de workshops para os preparar para a vida adulta, como cozinhar ou preencher os impostos. As vantagens são muitas porque os alunos valorizam o trabalho feito, e como resultado da sua interação com a direção, professores e funcionários vão também perceber como funciona a escola. Quando na sua vida identificarem oportunidades de melhoria, estarão mais confortáveis a implementar uma solução porque já tiveram experiências positivas no passado.

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Estas abordagens entram num território onde é importante professores e encarregados de educação estarem alinhados, pois entra na educação que recebemos em casa. Apesar do primado da educação estar com os encarregados de educação, é na escola que os alunos passam a maior parte do seu dia.

Quando numa dinâmica perguntei aos alunos quanto tempo passam com os pais e com os professores, os alunos responderam cerca de oito horas por dia com os seus professores e entre uma a duas horas com os seus pais. A escola assume um espaço de socialização muito importante. De facto, é na escola que as crianças e os jovens passam a maior parte do seu dia.

Estas abordagens têm de ser em sintonia de pais e professores. A colaboração entre pais e professores nem sempre é fácil, mas pode ser muito importante. Através dos pais, os professores ficam a saber mais sobre os seus alunos, o que lhes permite definir uma estratégia de educação mais adaptada às suas aspirações e necessidades. A educação vive do equilíbrio e a interação entre a família e a escola.

Se formos envolvendo os alunos na própria gestão da escola, com um papel ativo e de responsabilidade, estamos a ajudá-los a descobrir como o mundo real funciona. Teremos com certeza escolas melhores que beneficiam das ideias e trabalho de todos. Pouco a pouco, quem deveria conseguir mandar em si próprio, de forma responsável, são os alunos, mas para isso é preciso treino, pais e professores para os ajudarem nesse percurso.

Afonso Mendonça Reis é fundador das Mentes Empreendedoras, Inspira o teu Professor, Global Teacher Prize Portugal e foi nomeado um Global Shaper em 2012 pelo Fórum Económico Mundial.

O Observador associa-se aos Global Shapers Lisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, partilharão com os leitores a visão para o futuro do país, com base nas respetivas áreas de especialidade, como aconteceu com este artigo. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor e não vincula os Global Shapers de Lisboa.