No meio da turba de familiares de dirigentes do Partido Socialista envolvidos em negociatas com o Estado não há para lá um irmão ou um primo com carta de pesados a quem se faça uma daquelas estupendas adjudicações directas e que resolva o problema das greves dos motoristas de matérias perigosas? É preciso ter muito azar. Azar, ou miaúfa. É muito provável que desde que o motorista de José Sócrates foi detido por transportar certos e determinados envelopes para o ex-Primeiro Ministro mais ninguém se arrisque a transportar matérias perigosas a pedido de responsáveis do PS.
Bom, mas apesar de tudo a greve é só na próxima segunda-feira. Ainda há muito tempo para que algum parente de um qualquer líder socialista crie uma nova empresa de camionagem que dê resposta a este e futuros impasses. Aliás, foi já a pensar neste tipo de emergência partidário-familiar que o PS criou há uns anos o programa “Empresa na Hora”. Que é o nome abreviado da iniciativa. A designação completa é “Embora lá Criar uma Empresa, que Está na Hora de Sacar mais umas Massas Valentes aos Papalvos dos Contribuintes”. E o “Empresa na Hora” disponibiliza denominações já aprovadas donde escolher um nome. Por exemplo, se a ideia for aludir marotamente à trapaça que se tem em vista, neste momento está disponível a firma “Miragemidónea”. Se por outro lado o objectivo for um nome todo armadão em bom que não deixe dúvidas que se vai meter ao bolso forte e feio há a “Receitas Irreverentes”. Tudo nomes que parecem inventados por uma criança de onze anos. Filha, neta, ou sobrinha de algum dirigente socialista, naturalmente.
No meio deste impasse o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, garante que Portugal tem “reservas de combustível acumuladas para mais de dois meses”. Por um lado é uma magnífica notícia. Por outro é uma notícia dada pelo mesmo ministro que garantiu que as golas-acendalha do kit de emergência para fogos eram óptimas. Eu diria que é expectável que o país coloque bastantes reservas à afirmação do ministro de que o país tem bastantes reservas. Aliás, quando Eduardo Cabrita afirma que há combustível acumulado para dois meses o que quer dizer na verdade é que temos combustível suficiente para 60 dias pressupondo que: no primeiro dia não gastamos combustível; no segundo dia abdicamos de utilizar combustível; no terceiro dia gastamos zero litros de combustível; para poupar combustível refiro desde já que mantemos a mesma estratégia de renunciar ao dispêndio de combustível até ao 59o dia; no 60o dia gastamos o combustível estritamente necessário para ir lá fora ver se a greve já acabou; caso não tenha acabado retomamos a mesma estratégia desde o início; caso a paralisação tenha findado o Governo investe todo o combustível existente num monumental espectáculo de pirotecnia comemorativo da sua intervenção decisiva para o término da greve.
Realmente, aconteça o que acontecer com a greve dos camionistas o executivo de António Costa sairá sempre a ganhar. Se conseguir evitar a paralisação fica com os louros de não faltar combustível nos postos de abastecimento e bens essenciais nos supermercados. Se não conseguir evitar a greve proporcionará aos portugueses que não puderem ir de férias uma experiência muito semelhante a estar num daqueles países tropicais onde falta combustível nos postos de abastecimento e bens essenciais nos supermercados como a Venezuela ou Cuba.
O que me leva àqueles que efectivamente estão a sofrer por estes dias, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda. Não estar na rua a apoiar os trabalhadores numa greve que poderá deixar as prateleiras dos supermercados vazias, à imagem do que sucedia diariamente na União Soviética que PCP e Bloco guardam com tanto carinho e saudade no coração, só porque a paralisação não é controlada por sindicatos afectos aos comunistas é um verdadeiro sacrifício.
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