A pandemia chegou de rompante e, sem aviso prévio, inverteu as nossas prioridades, expôs realidades e democratizou a felicidade, unindo o mundo no desejo maior de um final feliz para este momento cáustico da história da humanidade, sob o lema “vai ficar tudo bem”, personificado nos arco-íris que encheram janelas.

Os valores da solidariedade, entreajuda e compaixão emergiram em sociedades pasmadas e desorientadas após o apagão geral das suas rotinas. Teve início a luta pela sobrevivência, tendo por base o medo e o isolamento social que nos tem desafiado. Começaram por surgir estratégias para sobreviver ao tempo em casa, que ameaçava a saúde mental de pais e filhos, de jovens e idosos. O consumismo parou abruptamente, sem que nos tornássemos mais infelizes! Novos hábitos de desporto em simbiose com a natureza emergiram, num culto ao que até então era invisível ou pouco valorizado. As recorrentes videochamadas, que romperam a vida privada, promoveram o campeonato nacional de estantes de livros. As relações humanas foram sujeitas a elevados níveis de tensão, pela presença ou pela ausência. Os brindes à varanda e o pôr-do-sol passaram a ser as novas tendências. O “simples” ganhou e o “menos é mais” revigorou-se. A crença de que o mundo vai ficar melhor depois desta provação coletiva dá-nos agora esperança.

Foram muitas as mudanças! Com a humanidade confinada às suas cápsulas protetoras e circunscrita a rotinas essenciais, a mãe natureza ganhou um novo fôlego. A Terra encheu o peito de ar e respira profundamente. Vemos as cidades a serem invadidas e tomadas novamente pela vida selvagem que, num ápice, recuperou o espaço perdido, dominando o asfalto e o betão edificados pela humanidade para o seu próprio bem-estar. A poluição do ar diminuiu abruptamente e os oceanos ganharam uma nova cor. Dizem-nos os factos corroborados pela ciência!

Se há lição maior que todos devemos tirar desta pandemia é o efeito nefasto da ação humana sobre os ecossistemas. A diminuição drástica da nossa pegada ecológica durante o confinamento, prova que aquilo que os jovens têm reivindicado é real, tendo a humanidade de optar agora pela afamada economia verde.

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Mas nem tudo são lições e nem tudo correu da melhor maneira! O racismo chocou-nos, como sempre, mais ainda pela negação da sua existência por alguns. A união das nações rompeu-se por rankings de quem estava pior. Criaram-se listas negras e apontámos o dedo uns aos outros. As fake news são usadas pelos líderes mais poderosos como engenhos de manipulação e cegueira de povos. Posto tudo isto, parece que o sofrimento por que havíamos passado, e que ainda enfrentamos, de nada valeu. O mundo acordou cheio de preconceitos e frugalidades mesquinhas.

Esquecemo-nos rapidamente das promessas que fizemos e das lições que tirámos, enquanto comprávamos papel higiénico como desalmados, víamos “Como é que o bicho mexe?”, fazíamos vídeos no TikTok e batíamos palmas aos nossos heróis.

Ou quase todos se esqueceram.

As novas gerações surgem novamente num mundo viciado na crise para lembrar o que é certo e o que é errado. Esta geração de causas coletivas, com mais sonhos para o mundo do que tempo, não desiste!

A solidariedade que marca a minha geração é visível nas causas que abraça e, apesar do momento disruptivo que vivemos e da alteração quase em absoluto das nossas necessidades, a sustentabilidade ambiental continuará a ser uma prioridade para jovens conscientes que não admitem que a hecatombe económica seja um pretexto para adiar a transição ecológica e muito menos para darmos passos para trás. A nossa convicção de que temos de agir para preservar o nosso planeta continua inabalável.

No Dia Internacional da Juventude, 12 de agosto, celebramos a participação dos jovens na construção do presente e do futuro das suas comunidades, mas este ano o nosso compromisso é verde e, por isso, vamos agir globalmente em prol da casa de todos nós. No agora, temos de ser ágeis para compensar os ecossistemas já bastante afetados e devemos fazê-lo com a forte convicção que deve ser uma obrigação de todos garantir um futuro para as gerações vindouras.