Passou um ano sobre a corrida eleitoral no PSD. Foi uma disputa intensa, esclarecedora. Deu uma nova oportunidade à presidência de Rui Rio para reafirmar a relevância do PSD.

O calendário gregoriano diz-nos que passaram apenas doze meses. O ‘feeling’ político é que já foi noutra vida, noutra dimensão.

A pandemia que abalou o mundo tem um impacto brutal. Também nas dinâmicas partidárias. Não podemos ignorar.

Revi-me no posicionamento que Rui Rio assumiu no início da pandemia, em Março. Comungo da ideia de um PSD que se afirme central no espectro partidário.

Desde o congresso do PSD, realizaram-se dois atos eleitorais e teremos mais uma eleição este ano. Concordei com a posição e postura de Rui Rio após o resultado das eleições nos Açores. E concordei, sobretudo, por duas razões: pelo futuro dos Açores e pela qualidade do José Manuel Bolieiro. Os Açores mereciam mudar de página. Mereciam uma esperança no futuro e não um destino de empobrecimento crónico.

Depois vieram as Presidenciais e a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa. Foi clara e muito importante para o país. Respondeu categoricamente a três dos mais relevantes ‘hows’ da política contemporânea: Como é que a Democracia lida com extremistas? Como se consegue mobilizar as pessoas? Como se constroem lideranças referenciais? A Direita Social deu a resposta.

No meio destes claustrofóbicos tempos pandémicos, há ainda uma eleição autárquica. Um escrutínio crucial para os concelhos deste país. E, como afirmou Rui Rio no congresso de 2018, estas autárquicas devem “reconduzir o nosso Partido à liderança que foi seu apanágio durante tanto tempo.”

As eleições autárquicas podem ser um movimento muito importante para virar o destino do país. O pântano é hoje uma realidade. E, a história ensina-nos, como em 2001, que as eleições autárquicas podem ser a força para mudar o país.

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Não se conhecendo ainda as escolhas dos candidatos autárquicos aos municípios mais emblemáticos, creio que as novidades que vão saltando para as páginas de jornais, a confirmarem-se, são positivas. Muito positivas.

A possibilidade de Carlos Moedas em Lisboa, de Paulo Rangel no Porto ou de Pedro Santana Lopes entrarem no combate, bem como o repto lançado aos principais rostos da sua liderança para se assumirem noutros municípios (Ricardo Leite, Filipa Roseta ou Joaquim Sarmento), é um caminho que subscrevo totalmente. Uma coisa é clara: os melhores devem ser convocados. Mais do que uma opção estratégica, é uma obrigação do PSD para pôr fim ao projeto de empobrecimento coletivo a que o PS está a condenar as nossas cidades e os nossos cidadãos.

Este caminho nem sequer é uma novidade histórica. Nesse 2001 de boa memória autárquica, Durão Barroso tomou exatamente a mesma opção corajosa. Convocou os melhores. Os mais preparados e com maior ligação ao eleitorado. Venceu. Rui Rio fazia parte desse grupo, dessas escolhas audazes, desse desejo de mudança. Foi eleito presidente de Câmara abrindo um novo ciclo de desenvolvimento no Porto. Vinte anos depois, o mesmo Rui Rio tem agora oportunidade de liderar um grande movimento de esperança e reforma no país. E fazê-lo com as suas escolhas. Rui Rio poderá dar uma nova oportunidade à social-democracia. Um resultado autárquico consistente, competente, crescente, está ao seu alcance. O mérito será tanto dos candidatos como do líder que os escolheu. É essa uma das virtudes da boa liderança: rodear-se dos mais talentosos e competentes.

Se estes são os sinais mais significativos deste ano de liderança, lamento que a união do partido tenha ficado por fazer.

Foi durante os mandatos de Rui Rio que se formaram e afirmaram novos Partidos e movimentos no centro direita. Chega, Iniciativa Liberal e a Aliança. Muitos dos rostos do PSD que estiveram com Passos Coelho foram esquecidos.

A recuperação de Pedro Santana Lopes é uma exceção a este ambiente de exclusão. A exceção que, desafortunadamente, confirma a regra. Há por aí muitos militantes da Aliança que tem vontade de voltar a militar no PSD. Não há razão para não lhes abrir as portas do Partido. O Aliança é feito essencialmente de pessoas que deram a cara pelo PSD durante décadas. Pessoas que combateram o PS e o PCP em ambientes muito difíceis. São rostos da família social-democrata que encontraram de novo o caminho para a casa de onde nunca deveriam ter abandonado. A política de ressentimento não ajuda somar, divide; não cria, destrói; não ajuda a vencer, é autodestrutiva. Recuperar Santana Lopes é certo. Abandonar todos os outros é uma injustiça. Todos não somos demais para derrotar um PS de pendor hegemónico que cada vez mais se confunde com o estado.

Também por essa razão, sobretudo por essa razão, deveriam ser valorizados rostos como Luís Montenegro, José Eduardo Martins, Maria Luís Albuquerque, Miguel Poiares Maduro, Jorge Moreira da Silva, Pedro Duarte, e tantos outros que de uma forma ou de outra podem ajudar no caminho da reconstrução de uma maioria liderada pelo PSD.

Se o PSD tem tido rostos importantíssimos em Rui Rio e em Ricardo Leite no tema sanitário (está ali um bom Ministro da Saúde), lamento ainda que o PSD não se tenha assumido como porta-voz de muitos outros temas. Problemas concretos que estão a impactar a vida de milhares de pessoas. E que não tem tido voz.

Pequenas empresas familiares, empreendedores e agentes culturais, empresas do turismo, trabalhadores independentes: tudo isto são negócios mas também são vidas. Negócios e vidas que atravessam hoje aquele que será um dos momentos mais críticos da sua existência.

Este Portugal precisa de ser ouvido, primeiro, e precisa de uma voz, depois. A voz deste país não é aquela do queixume, da lamúria e da crítica fácil às ausências do governo que servem de justificações para tudo e para nada. A voz deste país que sonha, trabalhador, fazedor, transformador, só pode ser de crença e esperança. É voz que tem de erguer-se contra o determinismo que nos chuta para a cauda da Europa ao mesmo tempo que é antídoto para o autocomprazimento que nos pinta como os melhores dos melhores do mundo. Tem de ser uma voz de verdade. A verdade é a única capaz de reconciliar as causas do nosso atraso com a ambição de construir um futuro que honre as nossas capacidades coletivas.

Ao não dar resposta às dificuldades que milhões de pessoas atravessam, ao não mostrar que há soluções diferentes, ao não se apresentar aos portugueses como um partido agregador, o PSD tem sido um catalisador da ascensão de partidos de nicho que vão abalando o sistema democrático liberal tal como o idealizamos.

Este é o ponto essencial de divergência para os populismos e para partidos de nichos. O que é esperado do PSD, sempre, ainda mais neste tempo, é que se assuma como um partido com soluções concretas para estes desafios.

É extraordinário ver o que alguns autarcas, em especial muitos do PSD, mas não só, têm conseguido gerar em soluções criativas. Esta pandemia revelou líderes locais que são essenciais na vida das pessoas.

Este exemplo de liderança de criatividade e de visão empreendedora devia ter como embaixador o líder do PSD. Estes valores estão em Rui Rio e, a bem da sua afirmação, é crucial que consolide esta imagem.

O país precisa desesperadamente de um discurso positivo que seja alternativo a uma visão centralizadora do papel do Estado que o Partido Socialista, naturalmente, entende como única resposta possível uma vez que fundamenta a subjugação do individuo ao Estado – concedendo ao PS o monopólio da necessidade e da dependência travestida de bondade politica.

O país precisa de um discurso pós-pandemia. Pós-moratórias. Pós-layoff. Não há espaço para receitas antigas. Esta crise é brutal e não podemos deixar o desemprego, a pobreza e a fome imperar neste país. Aqui entra a União Europeia, mas entra a necessidade de uma resposta vigorosa. Aqui entra a Social-Democracia como resposta. Aqui entra um Estado solidário. Mais do que Social, precisamos de um Estado Solidário para este tempo que vamos atravessar.

É fundamental vencer este pântano instalado. Mais do que o PSD ou partidos, é o país que ainda carece desesperadamente de uma alternativa.