A época é mágica. Mas a repetição até à exaustão de chavões e fórmulas cuja reciclagem anual, de tão gasta, já nem oferece um lustrozinho básico, abafa-lhe os brilhos. É o típico, “eu até gosto, mas” que o português tanto gosta de empregar.
As temáticas pré-natal, pré-ano novo e pós-festas não precisam de ser reinventadas. As meninas já deram tantas cambalhotas que já as vimos de todos os ângulos. Apreciámos toda a amplitude das suas existências, desde do bom, ao médio e ao mau.
Resumindo o meu Natal, considero-o de imenso sucesso. Cumpri sem sofrer em demasia com o espírito consumista, a secção alimentar manteve ofertas (algo exageradas) habituais e os eventos couberam-me todos na agenda. Não surpreendeu. Ótimo. Agrada, especialmente a emigrantes, esta caída no confortavelmente esperado e conhecido desenrolar de acontecimentos da época.
A parte que menos de me agrada é a preparação para o 31. É um momento em que há posições a tomar, quem não gostam da data por sentir ofensa na obrigatoriedade de felicidade, no preço da gamba cozida, do tamanho da lantejoula e da oferta de eventos adequados (larga maioria na minha amostra pessoal). E há quem goste do dia, queira entrar forma simbólica para que o ano que se desrolhe (palavra ensinada pelo autocorretor que me pareceu incrivelmente adequada) bem. Eu caibo numa das categorias, o que não podia interessar menos a ninguém. Tudo isto esperado, visto e apreciado.
O que eu venho propor é uma des-marketingui-zação da Época. Não há necessidade. Valem por si e sem mais. Não precisamos de incentivos ao que já pretendemos fazer e não esperamos novidades e nem mudanças em 24h que não aconteceram nas outras 8.688h que compõem o ano.
Poupem as bruxarias do “que vem aí” e “o que esperar”. Acalme-se a Tia Maria e os seus “conselhos para fazer melhor”. Não nos contem de uma única vez qual é o “Resumo do ano”. O “Ano em revista”. As “mais lidas”. As “mais ouvidas”. “De que se falou”. “De quem se falou”.
Conteúdo há que até tem bastante interesse. “Investimentos para fazer o dinheiro render no novo ano” e “Truques para alcançar o que faltou este ano”. Tem utilidade (não preciso de relembrar a inflação atual) Mas falta-me o tempo para as apanhar a todas, o espaço no bloco de notas. E ao terceiro artigo, já se me encheu o saco para assimilar mais.
Mas sugiro sejamos louquinhos e quebremos a fórmula. Congelemos as retrospetivas ao lado das sobras do Bolo Rei, e sirvam-me lá para finais de Fevereiro quando a minha cabeça (e corpo) já estiverem de novo aptos a receber açúcar e reflexões. Escapemos a (pelo menos este) enfartamento.
Saímos a ganhar todos, o eu de 2022 e o eu de 2023.