O caso de Luaty Beirão e de outros 14 camaradas seus, que continuam detidos por alegadamente estarem a preparar um golpe de Estado e um atentado contra a vida de José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola, mostrou uma vez mais que regimes que nascem com base em ideologias autoritárias não desaguam em democracias. No caso de Angola, o marxismo-leninismo-estalinismo, cartilha principal de muitos dos actuais dirigentes angolanos, juntou-se à corrupção e pilhagem oligárquica, fazendo com que esse país lusófono não tenha utilizado os biliões ganhos com o petróleo e os diamantes para modernizar o país.
Numa situação económica difícil, em que se tornou evidente a política realizada pela cleptocracia, os dirigentes angolanos podiam ser clementes, mas, pelo contrário, tentam fazer este caso um exemplo para todos os que põem em causa o poderio dos cleptocratas e corruptos. Para os seguidores da cartilha marxista-leninista, o terror é o melhor remédio contra a oposição.
A julgar pela acusação, as autoridades angolanas estão a imitar a “justiça” estalinista a fim de denegrir os jovens que apenas lutam por um mundo mais justo e um destino melhor para o seu país. Faz lembrar uma das acusações que os juízes-carrascos soviéticos faziam aos “trotskistas” de que estes se preparavam para abrir um túnel entre Moscovo e Londres a fim de abrir caminho à contra-revolução.
Naquela altura, milhares de trabalhadores e funcionários soviéticos saíram “voluntariamente” para a rua a fim de existir o “fuzilamento dos cães imperialistas”. Os dirigentes angolanos ainda não tiveram essa ideia, talvez porque ainda lhes reste um pouco de inteligência, mas não me espantarei se o fizerem, pois têm prática também neste campo.
Ironia da história, um dos detidos chama-se Nito Alves, homónimo de um político a quem dediquei parte da minha investigação científica. Depois de recolher numerosas informações, conclui que o chamado “golpe de Nito Alves”, a 27 de Maio de 1977, não passou de uma “inventona” de Agostinho Neto e Companhia para liquidar um “grupo divisionista” no seio do MPLA. As “massas” saíram à rua a exigir “justiça revolucionária” e os “fraccionistas” foram linchados.
Também não me surpreende a posição coerente do Partido Comunista Português, que se recusa a condenar a mais gritante violação dos direitos humanos por parte dos seus camaradas angolanos. Não se podia esperar outra coisa de uma força política que, segundo alguns, “mudou”, modernizou-se.
A história parece não ensinar nada àqueles que se consideram estar do lado certo dela. Principalmente quando se apoderam [sempre de forma ilegal] do poder absoluto e não querem jamais deixá-lo. Mas tudo acaba um dia…
Quanto à nossa diplomacia, continua igual a si própria, inactiva durante tempo demais em nome da defesa de boas relações, leia-se bons negócios entre Portugal e Luanda. Pelo mesmo motivo aceitaram na CPLP a Guiné- Equatorial.