As recentes declarações mais ou menos populistas do líder do PSD sobre a detenção de João Rendeiro desvalorizam não só a competência da nossa polícia como também terão um grande impacto (negativo) na opinião pública. Hoje, e cada vez mais, o mundo da política está recheado de declarações públicas que de certa forma podem influenciar os cidadãos na hora de escolher quem nos pode governar.

Entre verbalizar publicamente o que se pensa e guardar para si mesmo o pensamento, politicamente a linha é ténue. Isto significa que não se pode dizer tudo.

O que Rui Rio demonstrou não foi só uma enorme falta de sentido responsabilidade como líder político, para quem almeja ser primeiro-ministro de Portugal, mas também um enorme desrespeito pelas instituições.

O recado do Presidente da República, ao dizer que “não conhecer o que é uma investigação criminal, as dificuldades que implica quando atravessa várias fronteiras de vários países é não ter noção”, é o mesmo que dizer que o líder do PSD, que quer ganhar as próximas eleições, é um autêntico ignorante em matéria de justiça.

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Se é certo que a nossa Polícia Judiciária, em parceria com a África do Sul, se limitou a corrigir um erro judicial português, também é certo que sob a liderança de Luís de Neves podemos respirar um outro ar no ambiente pesado com que a justiça de vez em vez nos encobre.

E qual é a posição do líder do maior (por enquanto) partido da oposição quando uma instituição de justiça, em nome do povo, faz  o seu trabalho? É isto: “Pelos vistos, o azar de João Rendeiro foi haver eleições em janeiro.”

Quão graves são as declarações de Rio? Desde logo a maldosa insinuação de que tudo foi feito tendo em conta as próximas eleições. É preocupante, ter um candidato a primeiro-ministro que numa das mais importantes áreas da política nacional, como é o sistema judicial, é de facto ignorante, e foi com este adjetivo que Marcelo, e bem, catalogou Rui Rio.

Não podendo passar a imagem, nem lá fora nem cá dentro, de que temos uma justiça que não funciona, que é fraca com os fortes e forte com o fracos, Rui Rio acaba de demonstrar que poderíamos continuar a viver nesta bandalheira para vir dizer que nada se faz ou mesmo que nada se fez.

Mais grave ainda, estas declarações do líder do PSD, são uma tentativa absurda de destruir a boa imagem de uma polícia que com poucos meios humanos e técnicos ainda consegue fazer “milagres”. Ter um candidato que não percebe nada disto, é termos alguém que não percebe nada do país.

As piadas de Rui Rio a querer imitar Trump nas redes sociais deve a todos deixar-nos preocupados. É este o homem que quer governar Portugal? Assim, está visto, não vamos lá.

Com tudo isto, ter um candidato a primeiro-ministro que não se congratula ou não felicita a forma como uma instituição ao serviço da justiça fez o seu trabalho, quando todos pensariam que era quase impossível que o cidadão João Rendeiro pagasse pelos seus crimes, é mesmo ter uma grande falta de noção e de respeito por uma instituição que todos os dias dá provas da sua competência. Quando se diz o que não se deve, ouve-se o que não se quer e dia 30 de janeiro Rui Rio vai ouvir o que não quer porque não só disse o que não devia, como na verdade tem uma grande falta de respeito pelas instituições.