Alguns de nós terão uma memória muito vaga de quem foi Sá Carneiro. Outros tantos  recordar-se-ão com mais afinco da sua liderança, outros da sua assertividade política, mas quase todos não esquecem o homem apaixonado que devolveu a esperança a Portugal e aos  portugueses.

A história de Sá Carneiro deu um filme, cujo título curiosamente não era sobre o seu legado político, mas sim sobre a sua paixão como homem.

Simplificando a história, havia um homem casado e com filhos, que conheceu uma mulher  casada e com filhos, e que cruzaram as suas historias.

Contam os factos que corria o ano de 1976 quando em Janeiro se encontram num almoço.  Nada depois seria igual. Nesse almoço, curiosamente de trabalho, descobriram-se um no outro. Falaram, falaram, conheceram-se e deram-se a conhecer, e nunca mais se separaram.  Nesse dia, regressaram às suas rotinas e casamentos com um outro brilho nos olhos e os corações mais preenchidos. Desde essa altura telefonaram-se constantemente, tentando  arranjar formas de se encontrarem. Conta-se que viveram alguns meses na clandestinidade, mas sempre com certezas um do outro. Tornaram-se uma espécie de namorados como o Pedro e a Cinderela da música de Carlos Paião.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No final do ano, juntam-se. Ele continuará casado, ela conseguirá o divórcio.

Para uma nórdica, Sá Carneiro deveria fazer-lhe muito pouco sentido. Snu era casada com Vasco Abecassis, empresário de sucesso, com uma educação “very british“, as rotinas  assentavam numa vida social cheia de hábitos, na educação dos filhos e afazeres profissionais. Nesta vida aparentemente perfeita, Sá Carneiro não faria sentido, nem teria espaço para entrar.

Sá Carneiro, católico, casado com Isabel, com quem dá cursos para a preparação do matrimónio, tendo inclusive sido os catequistas do banqueiro Jardim Gonçalves e da sua  mulher Assunção. Sá Carneiro vive intensamente a sua actividade, entregando-se apaixonadamente à causa pública. Homem de emoções racionais, impulsivamente equilibrado, para quem Snu Abecassis, organizada e metódica, aparentemente também não lhe faria sentido.

Se a situação de Sá Carneiro não era a perfeita, a de Snu também não. Ela vivia no ter.… ele era o ser…

Ela tinha uma vida e carreira perfeita.

Ele tinha o ser.

Mas foi por um homem assim que, tal como Snu, Portugal se apaixonou. Um homem  pequenito, que se fazia grande quando falava. Um homem de pequena dimensão física que se agigantava quando pensava Portugal.

Com Sá Carneiro, Portugal sonhou.

Precisamos de políticos apaixonados, não de políticos formatados.

Precisamos de políticos que se esqueçam do ter e procurem no ser aquilo que podem dar.

A história recente obriga-nos a concluir que os eleitores estão cansados dos políticos de sempre. Dos que falam para dentro dos seus partidos, que se fecham nas suas estruturas e tentam perpetuar-se em cargos e funções. Todos os partidos, infelizmente, possuem esse tipo de quadros, são normalmente esses quadros que afastam os eleitores, apesar de esses quadros serem fortes internamente, nunca o são para o resto da generalidade das pessoas. A abstenção é prova disso. Os resultados são prova disso.

O PSD, partido onde orgulhosamente milito, também tem esses quadros e acredito que ainda são muitos mais do que aqueles que deveríamos ter, são os que estão agarrados em modo rotativo a cargos que se eternizam neles próprios. São os eternos vencidos nas eleições externas, mas os constantes vencedores das eleições internas.

Precisamos de políticos apaixonados como Sá Carneiro. Soltos para defenderem aquilo em  que acreditam. Que sintam, que vivam em função do que defendem não do que necessitam para sobreviver.

Necessitamos de políticos que saiam per si quando o seu modelo fica esgotado, e que saibam  sair.

Necessitamos de paixão e amor na política, precisamos de voltar a acreditar que sonhar é possível. Precisamos urgentemente de devolver a esperança a Portugal e aos Portugueses.

As pessoas só irão aproximar-se da política quando sentirem que tem políticos que são  genuínos e que sentem enquanto fazem.