Ainda sem nos refazermos deste combate, nem mesmo termos superado os riscos de contágio, com os quais estamos a aprender a viver, a Assembleia da República surpreende-nos de forma muito subtil e silenciosa. A lei da eutanásia, votada favoravelmente na generalidade no dia 20 de Fevereiro e suspensa até agora, é retomada para votação na especialidade. No grupo de trabalho criado para o efeito, são agendadas reuniões e audições, até resultar um texto único, o qual, havendo maioria para o viabilizar já no dia 18 de junho, seguirá para discussão e votação na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.

Não há dúvida que a pandemia do Covid-19 veio revolucionar a forma de pensar, decidir e agir da humanidade, de cada pessoa em particular e dos responsáveis políticos e governamentais em geral, em todas as partes do mundo, e em Portugal também.

A responsabilidade foi talvez a atitude mais vivida nestes tempos de incerteza, de grandes incómodos, de impactos económicos e sociais, ou mesmo religiosos, como jamais ninguém viveu nas atuais gerações, e até em antepassadas. A responsabilidade chegou ao ponto de limitar a nossa liberdade, de não nos permitir fazer praticamente nada. Fomos obedientes, porque acreditámos que para salvar vidas, essa era a condição.

À medida que a batalha se travava por todos os meios, uma linha da frente formada por um exército de médicos, enfermeiros e profissionais de saúde de todas as áreas, procurou heroicamente a todo o momento e todos os dias, salvar vidas! Salvar todas as vidas, sabendo que os mais frágeis foram e continuam a ser os mais vulneráveis. Todos assistimos e aplaudimos esses heróis, que abandonaram tudo, largaram as famílias e arriscaram as suas próprias vidas, com esse único intuito: salvar vidas!

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Ainda sem nos refazermos deste combate, nem mesmo termos superado os riscos de contágio, com os quais estamos a aprender a viver, a Assembleia da República surpreende-nos de forma muito subtil e silenciosa. A lei da eutanásia, votada favoravelmente na generalidade no dia 20 de Fevereiro e suspensa até agora, é retomada para votação na especialidade. No grupo de trabalho criado para o efeito, são agendadas reuniões e audições, até resultar um texto único, o qual, havendo maioria para o viabilizar já no dia 18 de junho, seguirá para discussão e votação na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. Finalmente, o projeto-lei voltará ao plenário para a votação final.

Esta notícia escandalizou os que a leram (quase nas entrelinhas), pasmando sobretudo aqueles heróis que todos aclamávamos ainda há tão pouco tempo. Afinal, será dado a estes heróis, a possibilidade de escolher entre salvar ou matar. Uma loucura! Médicos serão levados a decidir e a atuar contra a sua própria missão que é cuidar e salvar!

Ainda estamos em tempos de pandemia, de muitas incertezas, e sobretudo de muitas fragilidades sociais e económicas. Ainda estamos a salvar vidas. A salvar cada vida. Todas as vidas! Não nos podemos calar, nem deixaremos que se brinque com o maior bem que temos, a Vida.

A coragem, a dedicação, a competência e a luta que travaram os nossos heróis, vão continuar na linha da frente. Essa é a certeza que todos queremos ter!