Dia 30 de Janeiro estão em jogo os nossos modos de vida e o futuro de Portugal. Terminados os debates televisivos, apesar dos ataques aqui e ali, houve discussão de ideias e coisas importantes ficaram claras para os Portugueses.
No debate com António Costa, Rui Rio foi o vencedor. Não porque tivesse feito um knock out ao líder do PS, mas sim porque Rio encostou Costa às cordas e o obrigou a declarar as suas intenções de governação, criando um facto político.
E António Costa foi claro. Não podia ter sido mais claro!
Antevendo que não conseguirá ganhar as eleições com maioria absoluta, afirmou que não hesitará em avançar com um governo conjunto com o PAN de Inês Sousa Real, descartando liminarmente o formato geringonça, com o BE e o PCP.
No debate conjunto entre todos os líderes de partidos com assento parlamentar, António Costa voltou a defender a fórmula: apesar de reafirmar que preferiria a maioria absoluta (que tudo indica não terá), não deixa de ver com bons olhos governar com o PAN.
Dos debates ressaltaram ainda as linhas vermelhas que os partidos definiram relativamente ao PAN. Desde a negação de qualquer entendimento possível, como o fizeram CDS e Chega, até à clara definição de linhas vermelhas como as traçadas por Rui Rio, salvaguardando atividades socio-culturais «como a caça, pesca, touradas, etc». Colocando assim fora de discussão atividades que estão na mira do PAN e que este partido não se cansa de afirmar que quer abolir. Cotrim Figueiredo da IL, também não descartou o diálogo mas apenas se o PAN «prescindisse de algumas bizarrias» que, na verdade, são as grandes causas inalienáveis do PAN. À esquerda, o PCP é o único que também não embarca nos ataques do PAN ao Mundo rural.
Em termos práticos, e olhando para quem tem hipóteses de ser primeiro-ministro, temos por um lado António Costa que, de bom grado, governa com o PAN e, por outro lado, Rui Rio que, mantendo o seu estilo conciliador e de abertura para o diálogo, não negando que em teoria poderia falar com o PAN após as eleições, sabe na prática que qualquer diálogo e entendimento com Sousa Real é impossível já que as linhas vermelhas de PSD e PAN são exatamente as mesmas, mas com ângulos opostos.
Ora, linhas vermelhas não se cruzam, pelo que não existirão condições para o PSD se entender e governar com o PAN.
Inês Sousa Real, líder do PAN, também já deixou bem claro ao que vinha: viabiliza governos se os integrar (ocupando pastas ministeriais) e se puder impor a sua agenda ideológica. As suas causas.
Se o PS ganhar as eleições sem maioria absoluta teremos assim, muito provavelmente, um governo com ministérios entregues ao PAN, partido que é, tão somente, o partido mais radical, intolerante, proibicionista, taxador e ditatorial que alguma vez tivemos na história da nossa democracia.
Um partido cujo fanatismo nos impõe a sua ditadura de gosto sem o menor pejo e respeito pela autodeterminação e direito à diferença. Um partido que quer proibir tudo o que não siga a sua ideologia animalista extremista, que é contra o Mundo rural, contra a nossa cultura e contra a coesão territorial.
O PAN que, de entre as suas causas, tem destacado particularmente a construção de um serviço nacional de saúde para cães e gatos. A criação de hospitais públicos para animais, quando o SNS para as Pessoas atravessa uma das maiores crises e pressões de sempre. Médicos e hospitais para cães e gatos, quando milhares de pessoas desesperam por uma consulta, um exame de diagnóstico ou uma operação. Onde faltam centenas de médicos de família.
Um partido para quem a causa animal é, pelos vistos, mais importante que os milhares de pessoas que morreram a mais por causas não-Covid, sem assistência médica ou hospitais.
É na verdade um partido que até é contra o seu eleitorado, a maioria donos de cães e gatos de estimação. Basta ver as propostas que apresentam como a proibição de transportar os nossos animais de estimação por mais de 100km e/ou mais de 2 horas (proibindo-nos de os levar de férias ou de fim de semana); ou a proibição de termos os nossos animais de estimação sozinhos em casa, enquanto formos trabalhar.
Desenganem-se assim que o PAN é um problema apenas para as gentes do campo e para atividades como a agricultura, a pecuária, a tauromaquia, a caça e pesca!
O fanatismo e extremismo animalista do PAN é uma ameaça para todos nós e para a democracia, fazendo deste um partido que é contra os valores humanistas a que o próprio PS nos habituou, a ver representados e defendidos ao longo da história da nossa democracia.
Valores e princípios que o PS de Antonio Costa renega, para poder governar.
Todos nós portugueses, recebemos o convite para o casamento entre PS e PAN, boda que se celebrará algures na madrugada do dia 30 de Janeiro, passando a papel escrito o caso que foram mantendo durante a ultima legislatura.
Costa anunciou o casamento, mas Inês Sousa Real (apesar de não conseguir esconder a alegria) tacitamente pisca o olho ao adversário Rui Rio. Não porque ache que se poderá entender com o PSD (uma vez que têm linhas vermelhas totalmente divergentes), mas porque o PAN quer-nos fazer acreditar que não é de direita nem de esquerda e, tal como se «transveste» com outras causas além dos animais, para aparentar ser um partido inteiro, também quer dar ares de equidistância e neutralidade política para se diferenciar de BE ou do Livre. Na realidade está bem claro que Inês Sousa Real prefere Costa a Rio.
Esta aliança do PS com o PAN já não é aliás novidade, tendo permitido viabilizar vários Orçamentos do governo PS a troco de cedências ao PAN nunca antes vistas. O mesmo aconteceu com o mais recente OE que, mesmo chumbado por praticamente todos menos o PAN, permitiu a este partido ver aprovadas pelo PS iniciativas suas que abrem precedentes e atacam atividades, como nunca se esperaria de um governo socialista. A maioria e as mais graves das quais aprovadas nos últimos dias em que o Parlamento funcionou, numa corrida desenfreada, sem discussão, sem auscultação da sociedade e sem aprofundamento nas comissões parlamentares, suspendendo-se a democracia.
Do dia da votação final todos nos lembramos dos rasgados elogios de Costa a Sousa Real e vice-versa, bem como a ovação em pé da bancada socialista quando a líder do PAN discursou.
Mas tudo isso que se passou é apenas uma pequena amostra do que nos trará o agora anunciado matrimónio do PS com o PAN, para governar Portugal.
O matrimónio de um PS que não é aquele dos autarcas socialistas, das suas bases no território, dos muitos deputados eleitos pelo Portugal do interior. Um Portugal que representa dois terços do território nacional mas que pouco pesa para as contas de António Costa e, ainda menos, para as da nubente Inês Sousa Real.
Por isso ninguém poderá dizer que não sabe ao que vai quando dia 30 de Janeiro nos deslocarmos às mesas de voto.
Quem dia 30 de Janeiro votar no PS tem que ter consciência que tudo indica que, com o seu voto, irá meter o PAN a governar-nos. Não são papões ou fantasmas. António Costa disse-o
Por isso são muitos aqueles que tradicionalmente votam PS que, por estes dias, afirmam que não o irão fazer desta vez.
Dia 30 de Janeiro, mais do que nunca, todos estamos convocados a votar. Não o fazer é assinar a sentença de morte de grande parte das atividades produtivas e culturais que dão vida aos nossos campos, que dinamizam a socio-economia das zonas rurais, que contribuem para a preservação das paisagens e da biodiversidade.
Em jogo estará o futuro e os modos de vida dos Portugueses. Repito!
Acredito porém que a estratégia de Costa foi um erro. Um erro que alguém pagará caro: ou o PS, que verá desertar grande parte do eleitorado e perderá as eleições; ou, bem pior, pagarão caro Portugal e os portugueses, caso Inês Sousa Real venha a ser ministra da República Portuguesa em aliança com o PS.
Quanto a este casamento e à governação da nossa casa conjunta, apenas digo: Se alguém tem algo a dizer… «fale» dia 30 de Janeiro… ou cale-se para sempre!