Se eu tivesse um jornal, iria à falência; entre ter que aturar os trampolineiros, os especialistas em opinião cuja autoridade decorre da posse de um sistema digestivo e os indivíduos que, como eu, acham que um ser vivo deste micro-cosmos dos leitores de jornais portugueses beneficiaria mais de um momento frente ao espelho do que a vomitar anódinos achismos, todo o capital necessário para manter o jornal seria desperdiçado em processos de despedimento da minha própria redacção e da maioria dos colunistas.
Não é que tenha particular saudade ou sequer sentimentos nostálgicos de um tempo em que convencer brutos requeria engenho; é mais a incapacidade para perceber o que leva quem deseja convencer os que considera estúpidos a tratar todos os leitores como sendo, efectivamente, uma massa amorfa de brutos. Por tal pouco ou por tão tanto, no caso do leitor ser daqueles que se impressionam com o fim do mundo lá para Fevereiro de 2020 com o aquecimento global ou com a estapafúrdia jactância de indivíduos beatificados por quotas pela mera posse de ovários ou doses de melanina, deve parar imediatamente de ler este artigo e apressar-se a colocar-me na linha através da publicação no seu blogue e redes sociais de uma foto minha a acasalar com um leitão e a legenda: “fascistas – mais que pedófilos, nem os animais escapam”. A sério: façam o vosso pior.
Talvez eu não me importe com o que o leitor pensa ou, com maior probabilidade, não me importo é com o que a auto-proclamada intelligentsia pensa de mim, até porque se há coisa que a intelligentsia abdica é de pensar seja o que for, limitando-se a agir na restituição da “verdade”, a única aceite, a da “ciência” – no mesmo sentido em que os comunistas usam o termo “científico”. A “ciência” da não discriminação que consiste em discriminar todo e qualquer ser que se atreva a discordar – pausa dramática – com palavras. Palavras que ferem, que ofendem, que nos entram inesperadamente pelos ouvidos virgens e rompem os hímens de virtude que expomos amiúde no Instagram, de beiços projectados, decotes armados e pernas massajadas por conhecedores de chácaras, outrora resolvido por médicos de consultório abarrotado em tratamentos de histeria. Contudo, há quem se importe; quem sinta que lhe são devidas graças por, circunstancialmente, propagando vasos de vácuo, se mantenha imune à senda vingativa destes bisontes que assaltam o pacato acampamento com a grandiosidade de um Moisés legislador acabado de sair do health club onde bajulou nádegas suadas ao panpatriarcado (se não sabe o que é o panpatriarcado, imagino que esteja à rasca com traços de personalidade tão identificadores de grupo como pansexualidade, pelo que só o posso congratular).
Como há quem pensa que fica mal contrariar bisontes e sopeiras (quando se distinguem, nem sempre é fácil, até porque quem vê caras não vê identificações de género), e como há quem pense que não vale a pena comprar lutas com chanfrados, o que interessa fica por publicar. Claro está, nem toda a gente se pode dar ao luxo de incentivar respostas que consistem no cronista a violar uma cria de porco; algumas pessoas desejam até, por motivos obscuros, levar uma vida respeitável. Todavia, quão respeitável é a vida de alguém que descobriu os malefícios do dióxido de carbono num artigo de jornal? Quão respeitável é a vida de alguém disposto a aceitar quotas para isto e para aquilo só para não ter que aturar a ira das eternamente rejeitadas? Quão respeitável é bradar “fascismo” por todo e qualquer um que não reconheça trinta e cinco “géneros”, a palavra inventada para retirar o ridículo que seria alguém concluir existirem mais que dois sexos? Quão respeitável é fazer manchetes com “Não é brincadeira: Boris é mesmo PM”? Quão respeitável é marchar lado a lado em toda e qualquer procissão que consista em dizer “olá, nós somos sexualmente activos”? Quão respeitável é pedir ao sacrossanto estado que reconheça o direito a assassinar velhos que consigamos convencer a desampararem a loja? Quão respeitável é perder um minuto que seja a responder a proto-madames de Pompadour mais a sua horda de caniches amestrados em busca do esbulho de longas carreiras por delito de opinião? Quão respeitável é permitir que palhaços saiam das balizas para a esfera institucional com o único fito de expulsar da opinião pública quem os ouse contrariar com meras palavras?
O meu jornal não duraria muito tempo. Iria à falência, como expliquei. Todavia, enquanto existisse, uma coisa seria certa: só publicaria o que garantisse que quem tem que guinchar por tudo e por nada pudesse guinchar por tudo e por nada. Agora ide lá para dentro, pegai no teclado, fechai o GuineaHugeDicks dot com e guinchai um bocadinho que gosto imenso de vos ouvir a guinchar enquanto o país arde.